Um dia desses, recebi, pelas redes sociais, um vídeo de um comentarista que gritava raivosamente suas opiniões a respeito da educação atual. Devia estar pensando que, quanto mais alto falava, mais verdadeiras pareceriam suas afirmações. E o tal comentarista dizia que nas escolas particulares, principalmente, a educação estava um verdadeiro caos, que os alunos não estão respeitando os professores, que os professores são vistos e tratados como seres de segunda classe, que os pais desses alunos mandam nas escolas e exigem determinado tratamento aos seus filhos, que os professores são humilhados...
O vídeo era longo e eu o ouvi até o final. Ao mesmo tempo, comecei a ficar perplexo: Caramba! Sou professor em escolas particulares há mais de cinquenta anos, e como é que nunca vi nada daquilo que o comentarista afirmava ser verdade? Sou professor no Brasil, país do qual ele falava. Ou será que o Brasil dele é diferente do Brasil em que eu vivo? Ou será que as escolas particulares das quais ele falava não existem no Brasil em que eu vivo? E o cara gritava cada vez mais alto, para me convencer de suas críticas.
Vamos por partes, para que não pensem que vivo numa utopia ou que, com o tempo, fiquei esclerosado. A educação escolar vai bem no Brasil? Claro que não. As avaliações externas demonstram o nível pobre em que se encontra. Já esteve melhor? Depende do que se quer como referência. No passado, a escola particular não tinha boa qualidade, ao contrário da escola pública. Lá na minha juventude, a escola pública era procurada por todos, ricos e os pobres que conseguiam estudar. Já as escolas particulares só eram procuradas por aqueles que não conseguiam vagas nas escolas públicas. Só que a maioria das pessoas não conseguia estudar, e tínhamos, na sociedade, uma legião de analfabetos e de pessoas com pouquíssima escolaridade.
Vamos continuar o nosso raciocínio. Há violência nas escolas? Claro que há. Como há violência nas ruas, nos clubes, nas festas, no jogo de futebol, na cidade e no campo. A escola é uma parte da sociedade e, como a sociedade é violenta, essa violência respinga na escola. A pergunta deveria ser outra: A escola é o lugar mais violento da sociedade? Claro que não! A escola é um dos lugares menos violentos da sociedade. Se existe violência dentro das próprias famílias, como é que se poderia exigir que não houvesse violência nas escolas, onde há muito mais gente? Só que na escola a violência é menor do que a que existe em muitas famílias.
Ao comentarista raivoso do vídeo devo dizer: Não grite suas mentiras, para espalhar o caos. A questão educacional é muito mais complexa do que você quer mostrar. A escola é, ainda, pode estar certo disso, o caminho mais adequado para mudar a sociedade para melhor. Há coisas muito boas sendo feitas nas escolas. É preciso apoiar as boas ações. E é preciso repensar a sociedade como um todo, e não colocar a escola como a principal responsável pela violência. A escola é vítima, não algoz.
BAHIGE FADEL