Botucatu, terça-feira, 29 de Abril de 2025

Colunista Eliete Trombini Sartori Psicóloga
02/02/2017

Meditação



Por muitos anos a meditação faz parte das tradições orientais, países como a Índia, China, Japão, Indonésia, Tailândia, Tibete entre outros praticam e levam muito a serio. Umas juntam religião, outras apenas como forma de aquietar a mente, observar e encontrar dentro de si uma fortaleza, um refugio, um silencio que torna o individuo capaz de suportar e enfrentar as dificuldades do dia a dia, estar em comunhão consigo mesmo, a par de seus medos e receios, conhecendo assim o que ele tem de melhor, si mesmo.

“Conheça a ti mesmo e conhecerás o universo” – Frase antiga porem sempre atual.

O grande sentido de meditação é estar no presente momento, não existe nada além do agora, todo tempo e criação esta exatamente nesse segundo. Porem o ser humano não consegue perceber isso, vê o tempo como linear, passado, presente e futuro. Se analisarmos nossa mente, vemos que nossos pensamentos estão sempre oscilando entre passado e futuro, o que nos tira exatamente do agora dando uma sensação de vazio, o qual precisa ser sempre preenchido com coisas materiais ou emocionais.

Viver no passado causa depressão, viver no futuro causa ansiedade.

A meditação vem para acalmar essas oscilações, ajustar a mente e acalmar nosso corpo.

Digo acalmar o corpo porque tudo o que pensamos, nosso físico recebe através de impulsos eletroquímicos, desencadeando uma serie de reações no corpo. Exemplo é a adrenalina.

A Adrenalina é liberada quando estamos sob o estado de stress. Do ponto de vista de sobrevivência é muito importante, porém nos dias atuais temos uma vida tranquila e não precisamos brigar, matar ou correr para manter nossas vidas como antigamente. O que temos é a percepção de que as coisas são difíceis e complicadas, fazendo da vida um estado de alerta total.

Vemos em todas as ações e palavras algo que nos desequilibra mental e emocionalmente. Acordamos e já pensamos que temos que “matar um leão a cada dia”, nos colocando sempre prontos para a tal briga que nunca ocorre.

Toda vez que a mente gera um pensamento, automaticamente nosso corpo gera um sentimento que gera uma sensação física. Essa cadeia de eventos está tão presente em nós que não percebemos. Um pensamento qualquer que ha muito tempo se instalou em nossa mente, faz com que o corpo sinta por tantas vezes que não precisamos pensar mais, pois tornamos aquele pensamento um habito em nossas vidas, fazendo do corpo uma maquina automática. Essa automatização foi criada através dos pensamentos, “viciando” o corpo.

Geramos os pensamentos através de memorias e associações. Um impulso eletroquímico se comunica com outro através dos neurônios e sem qualificamos se os pensamentos são bons ou ruins o processo de ancoramento de um hábito acontece sem percebermos, pois não estamos conscientes de nossos pensamentos. Mas se organizamos a nossa mente através do processo da meditação, podemos ver os padrões frequentes de nossos pensamentos e consequentemente começar a perceber os padrões repetitivos em nossa vida.

Por Exemplo: Acordamos já estressados, cansados, brigando em casa, no trânsito e no trabalho, sempre em estado competitivo, de alerta, de luta, de fuga.

Não paramos para observar o que estamos sentindo, o que passa dentro de nós, não paramos e silenciamos nossa mente e observamos o que nos temos de verdade, o nosso eu.

Desde o momento do nosso nascimento, os nossos sentidos nos conectam ao mundo e a objetos fora de nós, tudo em nossas vidas é para conseguir suprir as nossas necessidades, as quais ao longo do tempo nos da uma sensação de preencher um vazio criado por nos mesmos.

Toda emoção e sensação é criada, existiu antes um pensamento, relativo as nossas percepções do mundo.

Somos cem por cento responsáveis por tudo o que acontece em nossas vidas.

A raiva, ódio, paixão, felicidade são produtos da nossa mente, do modo como olhamos e percebemos o mundo. A percepção é única e cria a nossa realidade. Podemos olhar a mesma coisa por vários ângulos diferentes, porem uma visão limitada ou simplesmente reativa dos acontecimentos não nos da oportunidade de criar uma nova realidade, pois estaremos sempre reagindo a tudo.

Ao começar a meditar, entramos em contato com nosso interior, podendo assim ter uma visão mais ampla e tranquila de tudo. Mudamos o reagir para agir, direcionando melhor nossas emoções e agindo de acordo com o que queremos sem nos arrepender por sermos impulsivos. A reação do impulso gera mais stress, gerando mais desequilíbrio mental, emocional e físico.

Existem vários tipos de meditações, umas com mantras, outras com visualizações, imaginação, mas nenhuma como a do Vipassana.

Vipassana significa: ver as coisas como elas realmente são, não como nossa mente quer que seja.

Os alunos de Vipassana apreendem a observar objetivamente as sensações do corpo, sejam elas quais forem, sem reagir, aprendendo através de suas

próprias experiências, usando a técnica da meditação entendem que tudo na vida é impermanente.

Pela observação das sensações físicas manifestadas por essas emoções e pela compreensão da sua natureza impermanente, as pessoas podem parar e mudar o habito de uma reação automática, através da auto-observação.

Quando encontramos o lugar do observador dentro de nós, entendemos que o mesmo não analisa, não procura, não controla, apenas observa igualmente sem reação, nem a favor nem contra, observando objetivamente as sensações irem embora. A técnica do Vipassana nos mostra que a aversão ou avareza às sensações do corpo alimentam ainda mais as emoções que por sua vez alimenta os pensamentos de onde surgiu, causando desequilíbrio e sofrimento desnecessários ao ser humano.

Observar, observar e observar, sem reagir, é a prática. Quando temos aversão a alguma coisa, nosso foco é tão grande que sofremos desnecessariamente ate aquilo sair de nossas vidas. Ao contrario isso também pode acontecer com a avareza, queremos tanto uma coisa e sentimos um desejo tão grande que quando algo desaparece das nossas vidas ficamos tristes com raiva ou ate mesmo com abstinência.

Nos dois casos, da aversão e da avareza, o desequilíbrio é fatal, pois não conseguimos compreender a natureza da mudança, da impermanência.

Tudo esta fadado a acabar, nada dura para sempre. E é isso que a meditação Vipassana nos ensina, observar a constante impermanência da natureza.

Essa realização acalma a mente, as emoções e as sensações. Ficamos tão conscientes que notamos a raiva surgindo e ao invés de reagimos a ela, deixamos passar, ou seja, no momento da raiva devolvemos compreensão amor e gentileza. E mesmo se precisarmos tomar uma atitude mais enérgica, não gastamos tempo com o sentimento, não levamos o que sentimos para o travesseiro.” Fervemos” cada vez menos, até o ponto de não explodir a toda hora, vivendo num estado de paz interna, sem se descontrolar com as coisas que não saem como o planejado.

Assim, essa técnica milenar pode ser usada por todos, pois qualquer um pode parar e se observar, começando pela sua respiração. Donas de casa, empresário, vendedores, gerentes, diretores, qualquer um, afinal somos todos iguais, e temos além do direito a obrigação de conhecer aquilo que nós temos de verdade. Nós mesmos.

Assim termino convidando-os a conhecer a pratica da meditação Vipassana, a qual os levara ao encontro de si próprios.










© Alpha Notícias. Todos os direitos reservados.