O Enem e a redação

     

      E qual será o tema da redação do Enem 2017? Façam suas apostas! Vícios tecnológicos, escravidão moderna, homofobia, bullying, liberdade de expressão, violência nas escolas, era da pós-verdade, lixo eletrônico, xenofobia, cultura do ódio... O certo é que o Enem pede um texto dissertativo-argumentativo a partir de uma situação-problema política, social ou cultural. O objetivo é que o candidato reflita sobre o problema não apenas para produzir o texto, mas também para transformar a sociedade.

      Eu entendo a ansiedade dos vestibulandos em querer antever o tema, a fim de possuir um melhor repertório na produção do texto. Entretanto nós não podemos deixar que essa ansiedade prejudique os estudos e prejudique a avaliação em si.

      A prova de redação acontecerá no domingo, cinco de novembro. No mesmo dia, os alunos farão as provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, e Ciências Humanas e suas Tecnologias. A minha sugestão é que o candidato aproveite ao máximo o tempo da prova para realizar a redação, ou seja, leia primeiro a proposta de redação, compreenda-a, e já comece a refletir sobre ela, a fazer algumas anotações e definir a tese, pois esta é o centro do texto. Depois vá para as questões e, enquanto estiver respondendo-as, ideias sobre a redação virão naturalmente. Assim, no momento em que for feito o rascunho, o texto já estará praticamente pronto na mente. É claro que cada um possui um tempo diferente para escrever o texto, mas, depois de ele já estar construído na mente, separem pelo menos uma hora para produzi-lo.

      O Enem exige uma dissertação argumentativa, um texto sem subjetividades, que possua uma tese, argumentos, conclusão da tese, e propostas de intervenção (sobre o problema abordado pelo candidato) que respeitem os direitos humanos. Eu aconselho que essa proposta seja bem elaborada, não seja algo vago, pois ela vale 20% da nota.

      Basicamente, além da proposta de intervenção, a redação será avaliada quanto à linguagem (Norma Culta), quanto à estrutura do texto, ao desenvolvimento do tema, consistência argumentativa, repertório sociocultural, coerência e coesão. E atenção, domínio da Norma Culta não significa, simplesmente, seguir as regras da Gramática Tradicional, mas sim dominar a linguagem utilizada em textos de Norma Culta. Lembrando também que, se o candidato fugir totalmente do tema, ou não fizer o gênero textual pedido (dissertação argumentativa), receberá uma nota zero.

      Aproveitar-se de pensamentos de filósofos, de estudiosos pode enriquecer bastante o texto. E há teorias filosóficas que podem ser abordadas em muitos temas diferentes. Portanto não é tão difícil de fazer algo assim. Mas cuidado, pois você deve saber do que está falando (não simplesmente decorar uma frase famosa para demonstrar erudição), deve desenvolver com coerência o tema, utilizando-se da intertextualidade de autores que ajudem a fundamentar sua tese.

     Infelizmente, em vez de ser um Exame Nacional do Ensino Médio, a prova se tornou um filtro para separar aqueles que farão faculdade. E a correção das redações não é algo exato. O mesmo examinador que avalia um texto em 800 pontos, por exemplo, se o fosse avaliar algumas horas depois, poderia lhe atribuir 700 ou 900 pontos de nota. E, assim, o vestibulando fica preso a uma nota que pode não ser a correta, ao ser comparada com a de outros textos. Mas não adianta reclamar, é preciso escrever um bom texto e saber que a avaliação não será perfeita, porém será próxima de um número adequado.

      Para se escrever um bom texto, é necessário ler bons textos e escrever diariamente. A linguagem escrita é diferente da falada, portanto é importante muito treino. Quanto ao conteúdo a ser desenvolvido, ele depende do repertório de mundo que o vestibulando possui, e, principalmente, de sua capacidade de reflexão. Por isso, a prova traz uma coletânea e um tema que, embora o candidato não conheça profundamente, conseguirá desenvolver bem.