Alberto Neves Júnior e Maria Erundina da Silva nasceram no mesmo dia e horários, mas em locais e de maneiras diferentes. Alberto veio ao mundo em uma sala agradável; sua mamãe Inês, deitada sobre uma cama macia, nem sentiu as dores da chegada do menino, ao sair pelo corte em seu abdômen. Ao lado de médicos renomados, toda a cena era registrada pela filmadora Full HD pela qual o papai de Alberto guardaria para a posteridade a vinda ao mundo de mais um futuro vencedor. Há quase mil quilômetros do hospital referência daquele estado, também vinha ao mundo a pequenina Maria. Não se trata de uma fala carinhosa dizer pequenina; acontece que a precoce guerreira nasceu, sob as dores do parto de sua mãe, medindo 40 centímetros e pesando em torno de dois quilos. A cena do nascimento de Maria também foi registrada, mas não em uma câmera, e sim na memória de vários doentes que aguardavam atendimento no corredor do hospital que já superlotara seus leitos. Enquanto a pequenina fazia força para chorar, para um dia dar vida aos gritos do silêncio, uma voz era ouvida no corredor: essa vai ser de grelo duro.
Os anos foram passando, e as duas crianças buscavam, cada uma a seu jeito, vencer em suas vidas. Na escola, em meio a várias provas difíceis e desgastantes, Albertinho passava de ano e se preparava para o vestibular. Em muitos momentos, o menino deixou a brincadeira, a infância de lado e caiu de cabeça nos estudos. No dia em que Alberto foi aprovado no mais concorrido curso de medicina do país, de presente, recebeu de seus pais um carro zero quilômetro, como símbolo da luta do jovem. Maria Erundina também seguia uma batalha, entretanto com algumas diferenças: desde os 8 anos de idade, Dininha trabalhava, vendendo, pelas ruas, salgadinhos que sua mãe fazia. A experiência profissional da jovem era grande: vendedora, depois catadora de latinhas, depois cozinheira, depois faxineira, depois... depois... depois...
Alberto abriu seu consultório aos 28 anos de idade, após muito estudo e dedicação. O jovem médico, aos poucos, se tornou um exemplo do vencedor com méritos: “Doutor Alberto”. Dininha também venceu. A moça, por intermédio de alguns parentes, arrumou emprego de costureira em uma cidade maior e, hoje, costura jalecos em uma fábrica e recebe um salário de R$ 1.200,00 por mês.
Nossos personagens são vencedores, os dois lutaram a partir do que tinham em mãos. A diferença é que o salário mensal de Dininha equivale a doze horas de plantão de Alberto. Quando era criança, Maria Erundina da Silva sonhava em ser médica; já Alberto Neves Júnior nunca sonhou em ser costureiro.