Botucatu, terça-feira, 29 de Abril de 2025

Colunista Nelson Ferreira Junior Professor de Língua Portuguesa/Redação
05/11/2018

Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na Internet



       “We don´t need no thought control”. No início da década de 1980, Roger Waters, o vocalista da banda inglesa Pink Floyd, por meio da ópera rock The Wall, alertava a sociedade de que nossos pensamentos, em grande parte, têm sido resultado de controle ideológico e que temos de nos rebelar contra este. Quase quarenta anos depois, as armas de manipulação mental evoluíram, e a terceira revolução industrial, produto do mundo pós-moderno, trouxe uma nova ferramenta de condicionamento que rege nosso consumo e ideologias.

     Fruto da Modernidade Líquida - expressão criada por Zigmunt Bauman -, a internet transforma o homem e direciona seu consumo. Ela age como um cérebro artificial que analisa os gostos dos usuários por meio das pesquisas feitas por estes, a fim de lhes propor e incutir novos consumos. A Indústria cultural estudada por Adorno e Horkheimer, em meados do século XX, constatava a influência massiva que a sociedade sofria pela tevê, rádio e jornais. Os sociólogos denunciavam a “morte da razão crítica” e, na desesperança de que houvesse uma transformação social que permitisse ao homem uma autonomia de pensamento, parece terem imaginado o surgimento da internet e seu sistema de algoritmos que dominam, atualmente, o consumo de grande parte da sociedade.

      Aplicando as reflexões do filósofo alemão Karl Marx sobre ideologia: da criação de valores feita pelo homem para manter o status da propriedade privada e dos donos dos meios de produção, percebemos que, por meio da internet, os atuais proprietários dos meios de produção filtram as informações que serão lidas pelos usuários manipulando seus comportamentos, seus pensamentos, suas ações. Como exemplo, em 2016, Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos após intensa campanha em redes sociais que criou, em grande parte por meio de pós-verdade, “bolhas” que impediam os usuários de terem acesso a perspectivas diferentes das notícias recebidas.

      Considerado o segundo colocado em ranking de ignorância sobre a própria realidade, o Brasil é uma das maiores vítimas da manipulação oferecida pelo controle de dados na internet. É imprescindível que a educação brasileira seja estruturada de maneira a desenvolver a capacidade de reflexão das crianças. É importante refletir, por exemplo, sobre a visão de felicidade de epicuristas e estóicos para não sermos enganados pelas técnicas de consumo. Para se chegar à Maioridade defendida por Immanuel Kant, a escola brasileira precisa ser menos conteudista e mais reflexiva; a escola finlandesa é um bom exemplo a ser seguido. Além disso, o Governo Federal precisa intervir nas mídias que são concessões públicas e exigir delas a exibição de programas educativos sobre o assunto. Também é responsabilidade do Estado criar uma polícia investigativa para impedir a disseminação de notícias direcionadas ou falsas, e punir seus responsáveis. Tais mudanças precisam ocorrer para que não sejamos apenas um “tijolo no muro”, o qual consome o que lhe é imposto e segue ideologias capazes até de eleger governantes.










© Alpha Notícias. Todos os direitos reservados.