Em meados dos anos 80, ainda muito pequeno, fui apresentado a um novo mundo. Meu irmão mais velho voltara da banca de revistas com um gibi em suas mãos “Secret Wars – Guerras Secretas”. A princípio fiquei um pouco bravo, pois ele tinha saído para comprar um gibi dos Thundercats. Mas, ao entrar no universo Marvel, algo mudaria em mim.
Secret Wars era uma minissérie em doze edições, a qual narrava uma aventura em que os maiores heróis do universo Marvel Comics, dentre eles Thor, Hulk, Homem de Ferro, Homem Aranha, batalhariam contra os grande vilões: Doutor Estranho, Ultron, Doutor Octopus, Galactus etc. As Guerras Secretas não foram só uma minissérie, elas fizeram com que eu desenvolvesse meu gosto pela leitura e por viajar em um novo mundo.
A partir de então comecei a ler os gibis da Marvel: conheci a luta contra o preconceito enfrentada pelos X-Men, questionei a luta da razão sobre a emoção em O Incrível Hulk, sofri com a paixão de Wolverine - não conseguindo controlar sua natureza selvagem - pela japonesa Mariko, imaginei como seria viajar por universos diferentes como o Surfista Prateado fazia. Mas, embora meu herói preferido fosse o mutante Wolverine, me identifiquei muito com o fabuloso Homem Aranha. De dia, Peter Parker era um jovem comum com problemas na escola, na casa. Um garoto apaixonado pela vizinha Mary Jane (que adolescente não teve sua paixão Mary Jane...), porém que, à noite, ficava refletindo sobre seus problemas, jogando-se de edifício em edifício, por meio de sua teia, e parando sobre os prédios para relaxar. Às vezes, ele era interrompido para salvar alguém que precisava de ajuda, ou para lutar contra algum vilão como o Duende Verde, o Lagarto, ou o Abutre. Aos meus 8, 9 anos, eu era o Homem Aranha.
Os anos foram passando e, aos poucos, fui deixando de ler as histórias da Marvel. Aos 14 anos comecei a trabalhar, e o tempo foi ficando escasso para continuar subindo pelas paredes, viajar por universos, ou lutar contra o preconceito aos mutantes.
De todas as lições que o Universo Marvel me passou a principal foi a de procurar fazer o bem ao outro. Diferentemente do que muitos podem imaginar, não foi a de querer ser o mais forte, ter super poderes, mas sim de buscar e lutar pelo certo.
Há alguns instantes, senti que minha infância estava ficando mais distante. Fiquei muito triste ao ler a notícia de que o responsável por todo esse mundo de fantasia e justiça fora levado de nosso universo. Stan Lee, o criador desse mundo fantástico, a Marvel Comics, faleceu aos 95 anos. A sensação que sinto é muito próxima à de quando morreu Roberto Gomes Bolanos, o Chaves/ Chapolin. Parece que uma parte da infância também morre...
Obrigado, Stan Lee. Espero conhecê-lo em um mundo alternativo para conversarmos sobre Peter Parker, Logan, Bruce Banner e tantos outros. Neste momento, você deve estar navegando em outros universos ao lado do Surfista Prateado. Acho que é hora de tirar minha roupa de Homem Aranha do fundo da gaveta, vesti-la, e sair me atirando de prédio em prédio pra pensar um pouco. Quem sabe eu reencontre minha Mary Jane...