Para avaliarmos algo como ótimo, bom, ruim, péssimo..., ainda que, inconscientemente, comparamos o objeto analisado a outros semelhantes. Mas a comparação inconsciente pode nos pregar uma peça e nos enganar. Por exemplo, ao respondermos uma pesquisa sobre presidentes, caso esta questionar se o atual governo é ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo; podemos dar uma resposta que não é aquela em que realmente acreditamos, pois podemos estar descontentes com uma atitude tomada recentemente e o classificarmos em sua totalidade como péssimo; ou, por outro lado, podemos estar contentes com uma atitude e o classificarmos como ótimo. Entretanto a classificação deve sempre ter uma referência para sermos mais lógicos e verdadeiros. É necessário questionar a pesquisa: eu devo classificar o presidente comparando-o a qual presidente anterior? Caso não façamos isso, poderemos estar criando uma ideia de opinião pública contrária à que realmente possuímos.
Eu usei um exemplo político-partidário, mas podemos pensar assim sobre qualquer assunto. Para os amantes do futebol, podemos refletir sobre um time que vem se destacando este ano, a Sociedade Esportiva Palmeiras. Trata-se de um bom time comparado às demais equipes que disputam o campeonato nacional. Entretanto se o compararmos a outros elencos palestrinos de épocas anteriores, teremos outras respostas. A equipe de 93 formada por Edmundo, Evair, Zinho e outros era bem superior a esta. E a da áurea fase conhecida como “Academia”, liderada pelo craque Ademir da Guia, acredito ser falta até de bom-senso querer fazer uma comparação.
Mas vamos ao cerne deste texto: educação. Mais precisamente, a educação militar. Vem crescendo no país o número de colégios militares. Estes têm conseguido prestígio perante boa parte da sociedade, uma vez que não só disciplinam mais os jovens, como também obtêm bons resultados em exames, como, por exemplo, o ENEM. Este tipo de sistema mantém policiais na direção das escolas; os alunos vivem uma rotina militar, precisam estar com cabelos cortados (no padrão militar), uniforme limpo (passado a ferro com vinco), precisam bater continência para professores, coordenadores, direção, dentre outras normas a serem seguidas.
Há pontos positivos e negativos na educação militar. De acordo com o relato de pais que possuem filhos em colégios militares, os jovens têm a vida mudada para melhor, pois se tornam mais dedicados aos estudos, mais disciplinados, organizados, respeitadores etc. Dentre os pontos negativos estão: a má formação reflexiva das crianças (obedecer sem questionar se é certo ou errado); perda de identidade (seguir um padrão de pensamentos, ensinamentos como se estes fossem os únicos, fossem os verdadeiros, deixando assim de manifestar sua verdadeira essência, personalidade); exclusão dos alunos que não se enquadram ao sistema (o aluno que não se adapta ao método, não pode permanecer na escola – se todos os colégios forem assim, o que acontece com esse aluno?)...
Grande parte da sociedade enxerga nos colégios militares a melhor solução para a educação em nosso país. Todavia esta visão acontece, em muitos casos, porque o referencial de educação que está em sua mente é o que temos na atualidade: ou a escola particular (com suas mensalidades) ou a pública (com a indisciplina, falta de professores, de estrutura, de material didático); ambas com um método que forma, muitas vezes, jovens com dificuldade em leitura, escrita, matemática, conhecimento de mundo, autonomia; jovens narcisistas, egoístas, indisciplinados. Fazendo-se uma comparação apenas com o atual sistema de ensino, qual o pai que não preferirá seu filho em um colégio militar?
Contudo, como educador, não posso deixar de apresentar à sociedade uma outra escola. Uma escola parecida com a “Academia” palmeirense da década de 1970. Uma escola organizada, disciplinada, em que seus craques, coletivamente, têm a liberdade de jogar com alegria, colocando em prática seu maior potencial, seja no drible, seja no passe, seja na liderança em campo, etc. Essa escola possui uma pedagogia conhecida por nomes diferentes: educação libertadora, educação integral, educação inclusiva... Nestes colégios, existe disciplina, autoridade, mas existe liberdade; existe desenvolvimento de habilidades inatas de cada aluno, existe respeito, para que a criança desenvolva a consciência de que é capaz de exercer seu papel de cidadão, transcendendo a simples esfera do conhecimento de regras, métodos e linguagens, sendo capaz de se inserir social, econômica e politicamente. Há mais de 150 escolas brasileiras com essa didática, como, por exemplo, a Emef Amorim Lima na zona oeste de São Paulo e a escola Edna de Mattos Siqueira Gaudio, em Vitória, Espírito Santo.
Referências... referências... Então, qual a referência? Alguns podem questionar sobre os gastos para uma escola com educação libertadora. Porém, mais uma vez, devemos utilizar as referências. Se o referencial for o modelo de ensino existente, os gastos seriam maiores, mas se o referencial for o modelo militar, haverá gastos tanto para um, quanto para outro método. É importante que o brasileiro conheça as duas pedagogias para que possa avaliar qual é a de sua preferência. O que não podemos é fechar os olhos e ver apenas uma. Há quem preferirá as escolas militares e há quem preferirá as escolas humanitárias. É mister que a sociedade tenha a liberdade de escolher qual a educação quer para seus filhos, e que seus filhos também tenham a liberdade de escolher qual caminho seguir.