Botucatu, terça-feira, 29 de Abril de 2025

Colunista Nelson Ferreira Junior Professor de Língua Portuguesa/Redação
03/08/2017

Cronos na escola pós-modernista



Parece que nos esquecemos das palavras do pregador, do eclesiastes, "vaidade de vaidades, tudo é vaidade". As palavras de Salomão, filho de Davi (aquele que derrotou o gigante Golias), referem-se ao vocábulo vaidade no sentido de ilusório, passageiro, efêmero. E o pregador continua "Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou ... tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar ... tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora ...

O sistema que nos cerca, que nos envolve, tirou-nos a capacidade de viver o momento como ele é, a capacidade de perceber que "tudo é vaidade". Não conseguimos perceber que há "tempo de plantar e tempo de colher". Passamos a visualizar apenas a colheita... e isso é ruim.

É tempo de volta às aulas! Inicia-se o segundo “semestre” letivo. E com ele a proximidade do vestibular... Mas não podemos olhar apenas para a colheita (o vestibular). Precisamos viver, desfrutar o plantio. A escola não deve ser compreendida como o local em que se memorizam informações para, futuramente, conquistar-se uma vaga na universidade. O plantio consiste em adquirir conhecimento para si e para a harmonia da sociedade. Este conhecimento não se trata de informações decoradas, mas sim de reflexões sobre conteúdos das ciências humanas, da natureza, da matemática e das linguagens. Ao contrário do que muitos acreditam, estudar não é decorar informações para uma prova.

E qual é a melhor maneira de aproveitar o momento escolar e, consequentemente, amanhã colher os frutos? Dentro da sala de aula, há o momento de assistir à aula. Este é muito importante, pois é por meio desta que o aluno terá contato com o conhecimento. Entretanto é necessário refletir sobre esse conhecimento, fazer paralelos entre ele e nosso mundo. Essa reflexão será mais bem aproveitada (e memorizada), se for feita no mesmo dia, antes das horas de sono. Toda vez que dormimos, as informações que adquirimos durante o dia - se não tiverem sido importantes, marcantes - são perdidas, esquecidas. Por isso, é bom estudá-las no mesmo dia, elas terão mais chance de permanecer em nossa mente, em nosso cérebro. Vale lembrar o quão é importante fazer revisões. Assim não se trata de quanto nós estudamos, mas sim de como e o que estudamos.

De acordo com a mitologia grega, o deus superior, Urano, teve vários filhos; dentre eles o deus do tempo, Cronos. Esse deus teria tirado o trono de seu pai, Urano, tomando todo o poder do céu, e do mundo, para si. Com medo de perder o governo, o trono, Cronos passou a devorar todos os seus filhos. O mito de Cronos, o deus do tempo, é uma explicação simbólica para nossa realidade: o tempo nos devora, nos controla, nos destrói, rege nosso destino. Nós vivemos em função do tempo, presos ao relógio que comanda nossos passos, nossas atitudes. Infelizmente a maior parte das escolas brasileiras não nos ensinam a destronar Cronos, a vivermos nossas vidas aproveitando os momentos, que "há tempo de plantar, e de se arrancar o que se plantou". A quantidade exagerada de conteúdo, de provas, e de aulas expositivas tira o tempo do aluno, tira sua infância, sua juventude, tira até mesmo o tempo para estudar. A escola nos condiciona a sermos servos de Cronos, e a vivermos em função dele: o importante não é aprender, mas sim tirar uma boa nota na prova, passar de ano; o importante não é refletir, mas sim ter um diploma; o importante não é estar preparado para fazer a faculdade, fazer o curso com o qual você possui afinidade, mas sim passar no vestibular o quanto antes e fazer o curso que lhe dará maior status.

"Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade".










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