Lembro-me de um vídeo divulgado em redes sociais no ano de 2013. Nele, uma jovem reclamava de seu pai, pois este a proibia de participar das manifestações que reivindicavam o fim da corrupção, melhoras na educação, na saúde... A garota dizia "pai, eu vou participar porque vou mudar o Brasil!". De acordo com o pai, a menina não teria sucesso. Naquela época uma onda de patriotismo tomou os corações de muitos brasileiros, fazendo-os acreditar que, se conseguissem retirar a presidente da nação, estariam melhorando o país. Os anos passaram, o presidente de nosso país é outro, mas não só os problemas de corrupção permanecem, como também é crescente a piora em nossa educação e saúde.
Embora o Brasil esteja afundando em injustiças sociais, o brasileiro parece ter perdido a crença de que pode mudar a situação - onde estão os manifestantes? Talvez essa inércia seja devido ao desânimo por ter feito parte de um processo que colocou no poder um presidente envolvido em escândalos, por perceber que seus heróis, na verdade, eram vilões. O gigante não acordou, ele estava apenas sonhando... Como um sonâmbulo, ele tinha seus passos direcionados por aqueles que voltariam ao poder.
Esse é um bom exemplo de nossa incapacidade política. Mas é importante abrirmos os olhos e percebermos que esta está muito além de não conseguirmos mudar a forma de nossos governantes agirem. Nós fomos condicionados a acreditar que fazer política trata-se apenas da escolha de vereadores, prefeitos, governadores, deputados, senadores e presidente. A palavra política é de origem grega e tem como significado tudo que se refere à cidade, que é público. Fazer política é agir de maneira cidadã, é intervir na sociedade, é cuidar do bem comum, daquilo que é público.
Acabamos nos tornando produto de impulsos o qual, ao acreditar que a responsabilidade pelo que é público é apenas dos governantes, deixa de agir politicamente na comunidade em que vive. Vamos a um exemplo: quando fomos ao Centro de Saúde de nosso bairro e fiscalizamos se o médico está cumprindo seu horário? E se ele estiver chegando atrasado ou saindo mais cedo? O que deve ser feito? Vamos conversar com ele, oras! Mas, e se essa conversa não resolver? Vamos falar com o responsável pela secretaria da saúde de nosso município. Digamos que o problema ainda continue. Por que não nos reunirmos, todos os moradores do bairro, e irmos conversar com o médico em sua residência? Chamarmos as mídias locais para divulgar o encontro?
Ser político não é fácil, ainda mais vivendo em um país que nos tira a capacidade de agir politicamente. Todavia a política é algo que faz parte da natureza humana. Precisamos cavar nossa alma e quebrar essa barreira que nos impede de visualizar nossa identidade de cidadão, e de intervir no meio social em que vivemos. Qual é meu papel na sociedade?
Enquanto o presidente e o Congresso impõem reformas que prejudicam a base da pirâmide social, a grande mídia não fala mais sobre crise, participando desse jogo de indução que nos mantém apolíticos, fazendo-nos acreditar que o melhor caminho é abandonar o que é público e alcançar pela meritocracia o que é privado. E quase trinta anos depois, os versos de Cazuza continuam sendo ouvidos em minha alma "pois aquele garoto que ia mudar o mundo/ mudar o mundo/ agora assiste a tudo em cima do muro/ em cima do muro".