Botucatu, terça-feira, 29 de Abril de 2025

Colunista Nelson Ferreira Junior Professor de Língua Portuguesa/Redação
12/09/2017

Escola da violência



No início da década de 1980, o antropólogo Darcy Ribeiro alertou a sociedade de que "se os governadores não construíssem escolas, em 20 anos faltaria dinheiro para construir presídios". Darcy Ribeiro antevia o caos que se tornariam nossas escolas, nossa educação.

Se refletirmos um pouco mais, veremos que o papel das cadeias foi tomado, em parte, pelas escolas, pois muitas destas estão superlotadas, são um lugar não de educação e desenvolvimento da criança, mas sim para sua exclusão e confinamento. A escola pública brasileira se tornou o lugar onde os pais deixam os filhos para que não estejam nas ruas, o lugar em que as crianças, obrigatoriamente, se separam da sociedade.

Mas quais seriam as causas dessa situação? Lembro-me de que, nos anos 80, o salário dos professores começou a sofrer grande desvalorização. Além disso, na década de 90, o governo Fernando Henrique Cardoso implantou o programa "Toda criança na escola", todavia não organizou a estrutura escolar para receber estes alunos, que até então, estavam fora dos institutos educacionais. Como consequência, houve a superlotação de salas de aula e o sentimento de impunidade criado nos alunos, uma vez que eles dificilmente seriam reprovados, expulsos.

Nossas crianças, jovens são confinados em uma escola que não possui estrutura para recebê-los; também são educados pela cultura consumista e violenta do rádio, da televisão e da internet; muitas famílias, ao não conseguirem estabelecer limites aos filhos, ao fazerem todas as suas vontades e quase nunca dizerem "não", estimulam o jovem a acreditar que pode tudo. É natural que neste cenário, muitos passem a desenvolver uma personalidade de desrespeito e de violência.

Recentemente, aqui em Botucatu, nossa cidade dos bons ares e das "boas" escolas, li uma notícia sobre um pai que, sem autorização, entrou na escola do Jardim Flamboyant e ofendeu

os funcionários com palavrões, ele estava transtornado porque a professora havia advertido seu filho de 11 anos o qual não estaria respeitando as regras da escola. Dentre os inúmeros casos de violência escolar, encontramos alguns que ganham repercussão nacional, como o de uma professora de Santa Catarina: a educadora postou, nas redes sociais, sua foto com hematomas, após ter sido agredida com socos, por um aluno de 15 anos.

É absurdo o que vem ocorrendo com nossas escolas. Uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico realizada em 34 países colocou o Brasil em primeiro lugar no ranking de violência escolar. E, para resolver este problema, a medida tomada por nossos governantes, Temer e companhia, vai contra a maré: estabelecer um teto para os gastos públicos pelos próximos 20 anos, assim, por exemplo, os gastos com educação só poderão aumentar de acordo com a inflação do ano anterior (não importando se a demanda for maior).

Darcy Ribeiro, o antropólogo que citei no início do texto, faleceu em 1997. Ele chegou a ver o início da concretização de suas palavras proféticas. Mas podemos acrescentar que o dinheiro existe sim, entretanto é necessário colocar na cadeia aqueles que realmente roubam nossa sociedade, e usar, na construção de escolas, o dinheiro roubado. Se não for assim, daqui a 20 anos não haverá mais escolas públicas, nem cadeias comandadas pelo Estado: só conseguirá estudar quem puder pagar pela escola particular, e as cadeias serão comandadas pela iniciativa privada, porém alimentadas pelo Estado, por nós. Talvez seja este mesmo o objetivo de muitos de nossos governantes...










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