Uma recente ocorrência policial em Botucatu, às vésperas da Páscoa, aponta que uma mulher de 31 anos foi presa em flagrante por cometer furto simples a um supermercado. Ela foi filmada pelo sistema de segurança, escondendo ovos de Páscoa e barras de chocolate em sua bolsa. Acabou presa após admitir o crime alegando que o chocolate seria para presentear os filhos. Por não ter dinheiro, resolveu furtar.
Claro que a atitude dessa mulher não está correta, mas quanto tempo ela vai ficar na cadeia por cometer esse crime “hediondo”? Temos registros de que uma mulher ficou encarcerada vários meses por furtar duas peças de salame, outra por um pote de margarina e um terceiro caso por duas peças de picanha. Eu disse meses!
Isso mostra como a justiça desse país é injusta. Gente que desvia milhões dos cofres públicos, dinheiro este que deveria ser usado em serviços essenciais à população, mas acaba nas contas bancárias dos figurões da República, especialmente políticos. Sempre eles. Eita gente que não vale o que come! Poucos escapam e raros são os casos em que são presos. A lei é muito favorável a quem tem dinheiro e pode contratar bons advogados, às vezes mais de dez.
E por favor, não venham com o demagógico argumento de que a assistência gratuita atende as necessidades da pessoa mais pobre. O custo de uma boa defesa é alto e nenhum advogado vai tirar dinheiro do bolso para prestar atendimento a quem quer que seja. Alguns sequer assistência gratuita fazem. Nada contra, apenas uma observação.
Vou dar mais um exemplo clássico dessa justiça injusta, que observo com muita frequência. Um cidadão que, por exemplo, espanca sua mulher deve, realmente ser preso e pagar por esse ato covarde e abominável. Entretanto, a pessoa só vai presa se não tiver dinheiro. Isso porque, por força de lei, o (a) delegado (a) arbitra uma fiança para o criminoso e em muitos casos o agressor sai da delegacia antes mesmo dois policiais ou agentes que o prenderam.
E enquanto os menos afortunados são, implacavelmente, condenados, os “espertos” continuam engordando suas contas bancárias, com negociações espúrias, nem um pouco republicanas. Mas, assim é o Brasil. Infelizmente. Para muitos o país da impunidade, o paraíso das falcatruas.
Por isso é que a classe política se encontra nesse lamaçal de podridão. Difícil encontrar um parlamentar no Congresso Nacional que não esteja envolvido em um escândalo. Alguns, apesar disso, continuam sendo eleitos por seus estados e municípios, eleição após eleição. E ficam, impunemente, cada vez mais ricos.
Só para citar um exemplo lembremo-nos de uma das figuras mais execráveis e nefastas da política brasileira no Congresso Nacional: o senador José Renan Vasconcelos Calheiros. Antes de entrar na política, esse cidadão chegou a morar de favor na casa de um amigo e possuía apenas um VW Fusca de patrimônio. Hoje é dono de fazendas, concessão de rádios e televisões, imóveis e diversas empresas que movimentam milhões. Cumpre seu quarto mandato no Senado como representante de Alagoas, um dos estado mais pobres do Brasil. E cada mandato de senador dura oito anos e não quatro como os demais cargos eletivos. Outra aberração do nosso país.
Nesse período Calheiros foi presidente por três gestões, eleito por seus pares (do mesmo nível dele) mesmo estando envolvido em dezenas de denúncias de corrupção e enriquecimento ilícito. Por pouco ele não consegue se reeleger mais uma vez este ano. Esse cara, definitivamente, é o espelho da política nacional.
Claro que existem “Renans” em assembleias legislativas e câmaras municipais de todo Brasil que deveriam estar extinguidos da política. Ou melhor: presos. Entretanto, o voto popular os mantém no poder, interminavelmente. Ele é a prova viva e atuante de que a justiça no Brasil é para poucos. Então como acreditar em justiça? Dizer que a justiça é igual para todos os brasileiros é uma utopia, Uma balela!
Para piorar, a mais alta Corte do país, o Supremo Tribunal Federal (STF), não goza de prestígio e credibilidade perante a opinião pública. E, cá entre nós, como acreditar numa Corte que tem entre seus quadros figuras como Dias Toffoli, Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski? É... O Brasil caminha, gradativamente, ao fundo do poço.