Naquela manhã de 1º de maio de 1994, a minha mesma rotina de dezenas de domingos. Uma baciada de pipoca, amendoim torrado e suco de laranja. Não poderia imaginar que o dia começava cheio de esperança e terminasse daquela maneira. Trágica! Inimaginável! Muito triste! Me lembro como se fosse hoje.
Foi naquele domingo que morreu o tricampeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna da Silva, depois de sofrer um acidente com sua Williams na curva Tamburello, no circuito de Ímola, na sétima volta do Grande Prêmio de San Marino. Era sua terceira corrida pela Willians naquela temporada. Nos dois primeiros GPs daquele ano, Brasil e Pacífico, Senna sequer havia terminado. Então a esperança de vê-lo cruzar linha de chegada em primeiro nessa nova escuderia era muito grande. E ele era o pole position, fato corriqueiro em sua carreira.
Senna liderava e buscava se distanciar do alemão Michael Schumacher, em início de carreira, na Benneton. Ao entrar pela curva Tamburello, atravessou a área de escape e se chocou com o muro de proteção de concreto, a mais de 200 km/h. A quebra da barra de direção do carro, foi o que fez nosso tricampeão sair da pista. Com o impacto, uma peça da suspensão dianteira saiu como uma bala de revólver contra o capacete do piloto da Williams, provocando danos cerebrais irreversíveis.
Eram 14h13 em Ímola, 9h13 no horário de Brasília. Senna só começou a receber atendimento médico dois minutos e meio depois da colisão. Um século! A transferência para um hospital, em um helicóptero, aconteceu 17 minutos depois. Horas depois, às 18h40 locais, 13h40 de Brasília, o coração de Senna parou de bater, definitivamente, no Hospital Maggiore, de Bolonha. A morte foi anunciada pelo jornalista Roberto Cabrini, em edição extraordinária.
Dois dias antes do acidente, Rubens Barrichello, então na Jordan, já havia sofrido acidente impressionante em Ímola em um dos treinos livres. No sábado, foi a vez do austríaco Roland Ratzemberger, da Simtek, bater forte e morrer na sessão classificatória.
Horas antes da largada Senna, que largou pela 65ª e última vez como pole position, criticou a pista e foi um dos que denunciou a falta de segurança para os pilotos. Sabia ele que poderia ser a próxima vítima de um acidente grave. E foi, para o desalento de todos nós.
Depois disso, meu interesse diminuiu, consideravelmente. A F-1 não era a mesma sem Senna no grid. Só voltei a acompanhar com a contratação de Felipe Massa pela Sauber. Antes de sua estreia esteve em Botucatu reunido com a imprensa e falou de sua expectativa em ser um grande piloto da F-1. Massa estreou em 2002, no GP da Austrália e foi galgando seu caminho em busca de uma grande equipe que lhe desse oportunidade de disputar o título mundial. Em 2006 foi contratado pela Sauber onde ficou até 2013. Porém na equipe estava o multicampeão Michael Schumacher, que poucas chances deu ao brasileiro.
Somente quando o alemão se lesionou e ficou fora da competição em 2008 Massa conseguiu mostrar seu talento e ficou com o vice-campeonato, um ponto do Lewis Hamilton. O título foi decidido na penúltima curva da última volta da última corrida da temporada, do Grande Prêmio do Brasil, vencido por Felipe, que só não foi campeão em razão de falhas da equipe nas paradas nos boxe que tiraram do piloto pontos preciosos que fizeram falta. Muita falta. Massa encerrou sua carreira na F-1 na Willians.
Tivemos sim, outros grandes pilotos que nos deram muitas alegrias, como Nelson Piquet, Emerson Fittipaldi e Rubens Barriquelo (apesar dos pesares), mas nada se compara a Senna. Ele tinha um carisma especial e mostrava orgulho de ser brasileiro, como nós tínhamos orgulho dele. Que delícia era assistir ele encerrar um GP a passear pela pista com a bandeira brasileira tremulando. Talvez a cena de um brasileiro cruzando a linha de chegada em primeiro num GP de F-1, não voltaremos mais ver.