Prazer no ódio
Prazer na alheia dor
Prazer na fumaça
E no cinza poluidor
E na vida?
E no amor?
Na beleza colorida?
Não há! Só há rancor!
Sorrisos nas arenas
Com animais a se contorcer
Torcidas nos telejornais
“Quantos bandidos conseguiram abater?
Onde está o coração?
O amor, o desejo?
Pelo que a alma anseia?
Qual é o sentido do beijo?
Como tanto nos corroemos?
Estamos podres por dentro!
Doentes, dementes e dependentes não nos vemos
Preferimos o nosso novo ao alheio alimento!
Somos cristãos odiosos
Somos nazistas amenizadores
Perfeitos hipócritas maravilhosos
Com um bem estar que se sobrepõe às outras dores
Na proteção lemos morte
Na vergonha, orgulho
No amor, comunismo
Na decadência entramos de mergulho
Quão deprimente é o espelho
Quão custoso é o escrever sobre o belo
E o protesto há de ser escrito
Espero que não até ser velho
E por mais vagarosa e árdua que seja a tarefa
Que possamos entre os pobres partilhar o belo, e o amor assim trazer
Pois afinal, se não gostam do verso, é este o que nos resta
Que mantenhamos na esperança e no brilho dos olhos o nosso prazer.