Solange encontrou Pedro em uma festa qualquer, uma dessas de faculdade. O círculo de amigos era parecido, considerando os gostos e costumes. Naquela festa que, para a alegria dos dois, parecia não ter fim, os jovens puderam conhecer um ao outro o suficiente para perceber que se dariam bem para serem mais do que conhecidos de festa. E a amizade entre Pedro e Solange foi se tornando cada vez mais interessante, a cada mês que se passava.
Certo dia, quando haviam marcado um bate papo no café mais popular da cidade, Solange já não aguentando mais, começou a desabafar com Pedro sobre tudo o que vinha passando em seu namoro com Diego. Eram anos de namoro, e infelizmente, anos de abusos.
- Ele parece me tratar bem na frente dos outros, sempre se exibe dos belos espetáculos românticos que faz, das vezes que me ajuda com a faculdade, ou de quando diz se preocupar com minha família. Mas não aguento mais, ele é tóxico, enquanto me elogia para os outros, me deixa psicologicamente cada vez mais fraca com o que faz! – Diziam, trêmulos pelo nervosismo, os lábios de cujo batom havia sido borrado ao escorrer das lágrimas de Solange.
Pedro se compadeceu no mesmo momento, abraçando-a e confortando-a com as palavras que ela queria ouvir. O que ainda não foi contado é que Solange era uma menina que tinha a capacidade de conquistar qualquer um, com a riqueza de seu lindo sorriso e singular simpatia.
Sua alegria e seu jeito brincalhão chamavam a atenção e ganhavam a admiração de todos. E com Pedro não foi diferente. O garoto logo se viu empenhado em conquistar a (até então) amiga.
Como um bom amigo, Pedro disse a Solange, após acalmá-la, que o melhor a se fazer naquele caso seria romper a relação. Ora, eram três anos de um namoro desgastante, precedido por quatro anos de outro relacionamento ainda mais ilusório, com inúmeras semelhanças a este último. Nenhum psicológico aguenta tamanha decepção!
Solange refletiu sobre o conselho do amigo, e após alguns minutos, e três ou quatro lágrimas finais para aquele dia, além de um gole de café e um pedaço de bolo de baunilha – o seu preferido – entendeu que era válido o que havia sido falado por Pedro. E talvez fosse justamente esse o maior defeito da linda menina: acreditar facilmente no que os garotos diziam a ela. Por vezes Solange agiu assim, e quase nunca se deu bem. No entanto, sua ainda presente inocência a fazia acreditar que dessa vez seria diferente.
Depois de compartilhar com Pedro qual tinha sido sua decisão, ainda naquela tarde, o garoto viu sua oportunidade de cativar pelo menos um pouquinho do coração de Solange:
- É osso, Sol... Tem cara que é furada mesmo... O cara te jura ser uma coisa, mas depois de alguns meses vira outra coisa... eu nunca faria isso... Sempre tratei bem os relacionamentos anteriores que tive, fiz tudo que pude por elas (era mentia, mas quem o desmentiria ali?), nunca disse fazer o que eu não faria...
E assim Pedro ia construindo uma imagem heroica de si mesmo. Apesar de boba e visivelmente inventada, Solange, inocente e se sentindo mal pelo namoro que estava prestes a terminar, se interessou e começou a cair na lábia do amigo (agora, já não apenas amigo).
Tendo dito isso, se levantaram e se despediram. Solange, logo que saiu do ambiente, ligou para Diego, terminando o mais rápido possível aquele relacionamento que a fazia mais mal do que bem.
Chegando na casa de seu melhor amigo, Pedro nem tocou a campainha:
- Vitor, corre aqui mano! Sério, cê não vai acreditar quem tá na minha! Vem logo!!
- Qual é Pedrão, o que tá rolando?
- A Sol, aquela gata da festa da facul que rolou no final do ano, tá ligado? Acabei de trocar uma ideia com ela, e ela vai largar o Diego! Tô bem na frente dela mano, deu super certo colar fingindo que era só amizade mesmo! Cê precisava ver ela quando eu comecei a falar do que eu faria como namorado, mano! Ela tá na minha!!
- Pô mano, que massa! Mas esse papo de você como namorado... O que cê falou pra ela? Porque ela não pode ter se deixado levar na sua se você mandasse a real né... – debochou Vitor, que conhecia o perfil de Pedro há anos.
- Nada vey! Dei aquela enfeitada né! Só pra ganhar ela mais fácil... Depois ela vai entender que pelo menos melhor do que o ex eu sou...
E a conversa seguiu até o final da noite. Vitor e Pedro eram amigos, e partilhavam de muitas opiniões e gostos em comum. A diferença é que Pedro era um babaca, ao passo que Vitor era um gênio. E justamente pela tamanha falta de inteligência, Pedro não se deu conta do quão específicas e carregadas de segundas intenções eram as perguntas de Vitor. Era mágico: Solange encantava a todos. A TODOS.
E o que estava previsto aconteceu: Solange largou Diego, Pedro pediu Solange em namoro, Solange aceitou, e percebeu que mais uma vez havia entrado em um relacionamento vazio de tudo o que um bom relacionamento precisa ter, mas carregado de abusos, obrigações, exigências... Agora além de ser tratada mal, Solange não era nem ao menos superficialmente agradada... Teve que romper com sua amizade de anos com Cíntia, foi proibida de ajudar Vanessa, uma amiga não tão próxima, mas que precisava de ajuda, foi forçada a criar vínculos de amizades com Elisa, uma das melhores amigas de Pedro, e várias de suas opiniões viravam motivo de piada e depois eram pisoteadas pela arrogância do namorado.
Foi então que Vitor apareceu em sua vida. Inteligente como era (alguns prefeririam a palavra estratégico), começou a apoiar as opiniões de Solange, dizer que a amizade com Cíntia não precisava de algo tão severo, estimulava a ajuda à pobre Vanessa... nada era real, quanto menos sincero. Mas foi a estratégia com a qual Vitor acreditava que poderia começar a conquistar Solange, ainda durante o namoro com Pedro.
Alguns diziam que era óbvio o “fura olho” no caso. Outros diziam que Vitor apenas tentava balancear uma situação, para apoiar e ajudar Pedro, seu amigo, no tão desejado namoro. O final dessa história (vi)veremos talvez ainda neste ano, talvez dentro de quatro anos. O importante, nunca se esqueçam, é não torcer contra!
(Contra o quê?)