Tudo ia bem pelos lados da cidade de Chapecó, principalmente nas bandas da Arena Condá, estádio do time local. A Chapecoense vinha vivendo uma ascensão meteórica até então, da serie D para a Série A, a principal divisão do futebol brasileiro. Isso lhes garantiu a participação na Copa Sul-americana deste ano. Houve quem dissesse que participariam apenas para “cumprir tabela”, mas não foi o que ocorreu, a Chape (como ficou conhecida), impressionou e surpreendeu a todos com um futebol bonito, envolvente e agudo.
Os ineditismos da vida têm suas surpresas, por vezes nem tão boas. Uma delas chegou até o avião da Lamia na madrugada do dia 28 para 29 de novembro de 2016, o fim de uma historia, de uma equipe, e vidas que estavam no seu auge chegaram ao fim na queda daquela aeronave. Um acidente que chocou e entristeceu o mundo, levando consigo 70 vidas de uma única vez. Quanta tristeza!
Todos as perguntas, todos os “por quês?” são justificáveis. Por que Deus não preveniu, evitou, ou interveio para evitar tamanho desastre? Ele não podia? Então, não é Onipotente. Ele não quis? Então, é mau. Ele tem um propósito que ainda não sabemos? Então, é maquiavélico. Ivan Karamazov, no romance de Dostoievski, julgou essas respostas inaceitáveis. Eu também.
Meditando nas Sagradas Escrituras aprendo que de fato fui ensinado a crer num deus que pouco tem a ver com o indicado nos textos sagrados. Ricardo Gondim vai dizer: “As imagens de Deus que se alastram o tratam como um monarca; vez por outra, como um severo juiz. Nessa visão, o pecado de Adão e Eva representa uma afronta infinita à glória, também infinita, de Deus. Ferido, Deus poderia vingar-se da humanidade que o traiu. E se a vingança divina for legítima, não nos resta senão aceitar seus castigos.”
Hoje entendo e defino aqui no que acredito, creio que Deus já reconciliou o mundo consigo mesmo, em Jesus Cristo. Creio que não há mais dívidas a serem pagas, elas já foram. Creio que Deus não vive lá longe em um céu metafísico, separado de nossa realidade. Creio que Deus não é um maquinista que conduz vidas e a história a um fim glorioso. Creio na encarnação. Deus está em tudo e em todos sem, contudo, se confundir com a criação. Creio que beleza, solidariedade, fome e sede de justiça, são sombras da presença, muitas vezes imperceptível, de Deus.
Assim Deus chora hoje na Arena Condá, pois uma vida destruída por acidente, por bomba ou por fome, o machuca. Deus chora diante dos túmulos. Jesus ainda se move nas entranhas diante do sepultamento dos jovens que ainda teriam uma vida inteira pela frente. O luto da Chapecoense é o luto de Deus. Ele jamais despreza nossas lágrimas. Na arquibancada do estádio ele derrama lágrimas junto do menino que chora. A dor e o sofrimento são preços trágicos que tanto Deus como nós pagamos para soletrar a palavra liberdade.
Oro por todos aqueles que decidiram ser um com os que sofrem.
Que o Eterno nos console.
Renato Ruiz Lopes
renatopibb@hotmail.com