Querido (a) leitor (a), com acesso aos meios de comunicação ou não, não é mais novidade que setembro seja o mês dedicado à prevenção do suicídio. Conhecido como Setembro Amarelo, a campanha teve início em 2015, como uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), juntamente com o Conselho Federal de Medicina (CFM) em parceria ainda com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Suicídio, um tema polêmico e talvez por isso, tão pouco discutido. Para algumas religiões, um ato abominável, sem direito ao perdão. Segundo Bertolote (2012), “o suicídio é a pior de todas as tragédias humanas. Não apenas representa a culminância de um sofrimento insuportável para o indivíduo, mas também significa uma dor perpétua e um questionamento torturante, infindável, para os que ficam”. Sendo assim, ao invés de sermos acusadores e taxativos, deveríamos ser mais compreensivos diante de tal realidade. Mas como sermos acolhedores se não temos a devida compreensão sobre o que realmente sente ou leva o indivíduo a cometer suicidio?
Uma coisa é certa, suicídio é um grito de desespero diante de uma dor da alma. Uma chaga exposta conseguimos ver, desperta em nós compaixão e buscamos fazer os cuidados necessários, limpamos e passamos unguentos, mas uma dor da alma não conseguimos ver e por isso ficamos impotentes, inertes. Muitos casos de suicídio estão ligados a quadros psiquiátricos, entre eles, o mais comum, depressão. Sendo assim, preferimos dizer que depressão é frescura, ou falta de fé. Não ajudamos com os devidos tratamentos, psiquiátrico, psicológico e outras formas de suporte, como por exemplo espiritualidade, que poderiam em muito ajudar.
No livro do profeta Isaias 35,4, lemos: “Dizei às pessoas deprimidas: criai ânimo, não tenhais medo!”Sabemos que nem sempre basta dizer às pessoas deprimidas que tenham ânimo. É preciso mais que isso. É preciso saber ouvir a dor do outro e com isso saber o que falar. Muitas vezes não falar nada é a melhor forma de estar com o outro. Sabe-se que quem não ouve, muito dificilmente aprenderá a falar.
Existe um relato no Evangelho de Marcos que diz que trouxeram a Jesus um homem surdo para que Jesus o pudesse curar. “Jesus, olhando para o céu, suspirou e disse: Efatá!, que quer dizer: abre-te! Imediatamente seus ouvidos do surdo se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldades” (Mc 7,34). Seguido do ato de ser curado da surdez, o homem começou também a falar. Veja que ouvir bem é condição sine qua non para que se possa falar bem. Uma criança que não consegue ouvir também não conseguirá obedecer.
O que tudo isso tem a ver com o Setembro Amarelo? Com o Setembro Amarelo somos convocados a lidar com a prevenção do suicídio. Como fazer a prevenção do suicídio? Acredito que a primeira condição é a de estarmos atentos ao nosso próximo. Sejamos sensíveis aos pequenos sinais que o outro tem nos dado. Ouvir o outro pode ser um bom começo. Só uma boa escuta gera um bom diálogo. Quando não sei escutar as dores do outro, também não saberei como falar com esse outro, e não conseguirei assim ajudar também esse outro. A condição de uma boa fala deve ser uma boa escuta. Portanto, efatá, abra-se ao seu próximo.
Alerta. A filha de um primo meu cometeu suicídio recentemente. Ela tinha apenas 18 anos de vida, cursando faculdade, uma bela jovem. As perguntas são sempre as mesmas: como uma jovem tão linda que tinha tudo para ser feliz foi se matar? O que interpretamos como ter tudo para ser feliz? Por isso devemos estar atentos para vermos quem está do nosso lado e quais são as suas reivindicações. Tenho lido constantemente que os meios modernos de comunicação têm nos aproxima de quem está longe e nos distanciado de quem está perto.
Setembro Amarelo não pode ser apenas em setembro, mas em todos os dias do ano. Efatá! Oxalá consigamos nos abrir a uma escuta sincera... tem muita gente com dores de alma ao nosso redor. O que temos feito? Seja mais sensível! Esteja mais atento! Às vezes um simples bom dia, um simples sorriso pode salvar o dia de uma pessoa. Pense nisso.
Paz e Bem!
Rev. Benedito Carlos Alves dos Santos