Botucatu, terça-feira, 29 de Abril de 2025

Colunista Rev. Benedito Carlos Santos Reverendo Anglicano, Psicólogo
01/10/2018

A mãe e o campo de melancia



Querido (a) leitor (a), o que nos move no dia a dia de nossa história de vida é a esperança que temos de que algo do que fizemos um dia terá valido a pena. O mesmo do que dizer: “Um semeia, e o outro colhe” (Jo 4,37). Nem sempre vamos ver frutificar a semente que semeamos, mas devemos ter a esperança de que o bem que fazemos produzirá seu fruto. Pois é certo ainda dizer que colhemos o que plantamos, mesmo que seja outro o que colhe.  

Diante disso quero chamar a atenção aqui de que nem sempre bastam as intenções de nosso coração. A intenção deve vir seguida de uma tomada de decisão consciente. Podemos ter boas ideias, mas se essas ideias não saírem do “mundo das ideias”, de que valerá?  Para se ver a esperança florescer faz-se necessário uma ação concreta. Existe um ditado que diz que “o inferno está cheio de boas intenções”. Cuidemos com as promessas, pois elas podem nos iludir. Mais do que nunca estamos precisando de homens e mulheres que tenham atitudes concretas. Para isso trago a posposta de uma reflexão sobre uma lenda tirada do livro O desafio da Oração de Edouard Brzostowski, p. 24:

"Havia uma vez, há mais de vinte anos, uma casinha muito pequenina e, em volta da casinha, uma pequenina horta. Nesta horta, três pés de tomate, dois pés de pepino e um pezinho de melancia que se elevava ao céu.

Rega e monda faziam-se todas as manhãs: mamãe regava, as duas crianças mondavam. O papai estava ausente: tinha partido para guerra, com o fuzil ao ombro, na direção das ilhas longínquas do Pacífico Sul.

Melancia, procura amadurecer, serás com certeza muito doce!

Um dia, o tambor toca: era dia da festa, o dia esperado em que, enfim, se colheria a melancia! As duas crianças pularam de alegria e devoraram a melancia às pressas, sem mesmo prestarem atenção às sementes. Mamãe, em silêncio, as olhava. 'Mamãe, por que você não come da melancia? Você gosta tanto de melancia!

- Ó Deus, eu te rogo! Que volte são e salvo o papai destas crianças! Se tu me ouvires, nunca mais eu comerei melancia!'

Passou um verão, depois um segundo ... Mamãe não comia mais melancia.

Três anos depois do fim da guerra, ah, finalmente, o papai voltou! Mas ele voltou em forma de cinzas numa urna, sem costas, sem mãos, sem rosto!

Veio mais um verão ... Depois mais vinte verões! Mamãe tornou-se avó!

Ela diz a Haruko, sua netinha: 'Todas as mamães do Japão só rezaram e nossos papais não voltaram!

Então, é preciso que todas as crianças, com força e inteligência, façam tudo o que puderem para afastar a guerra! Fora! A guerra fora daqui!

Nunca mais a guerra sobre a face da Terra! Guerra, para fora da Terra!'

Havia uma casinha, cercada de uma pequena horta. Nesta horta, três pés de tomate, dois pés de pepino e o pezinho de melancia que se elevava ao céu!"

Que a lenda citada nos leve a pensar. Quanto tempo essa mãe se privou de comer melancia com propósito de que o esposo voltasse vivo da guerra? Com o tempo ela descobre que não bastava privar-se de comer melancia para que cessasse a guerra, mas era preciso fazer alguma coisa para que a guerra fosse extirpada.

Estamos às vésperas das eleições. Muitos de nós já estamos desiludidos com a política nacional. Mas não podemos nos omitir e menos ainda permitir que o rancor escolha quem queremos que governe sobre nós por mais quatro anos. Precisamos ter bom discernimento. Corremos o risco de ver o tempo passar, corremos o risco de nos privarmos de comer as melancias e nada mudar. As intenções devem estar acompanhadas de atitudes concretas que transformem. Precisamos sair do mundo das ideias para que a transformação aconteça. Não podemos ficar no mundo das ilusões acreditando que todas as promessas se realizem no dia seguinte. Pense nisso.

 

Paz e bem!

Rev. Benedito Carlos Alves dos Santos










© Alpha Notícias. Todos os direitos reservados.