Botucatu, terça-feira, 29 de Abril de 2025

Colunista Rev. Benedito Carlos Santos Reverendo Anglicano, Psicólogo
05/11/2018

Estigmas e preconceitos – A alma dos diferentes



Querido (a)  leitor (a), nosso tema vem falar de algo que sempre existiu e que, acredito eu, sempre vai existir no convívio social: estigmas e preconceitos. Erving Goffman (1922-1982), publicou o livro “Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada”, o que significa dizer, pelos estudos de Goffman, que o estigma é uma forma de manipulação do ser, onde sua identidade, em vista do preconceito, acaba sendo deteriorada.

O estigma é uma forma de manipulação que faz com que o indivíduo estigmatizado passe a não ser visto como alguém humano, mas um ser desconcertado e fora da realidade comum. Como o define também AyushMorad Amar (1982), estigma é uma forma de diminuir o valor do outro: “Se não posso ser tão bom quanto Sócrates, posso, pelo menos, neutralizar seu sucesso, rebaixando-o para meu nível”. Talvez daí nasça a necessidade de algumas pessoas caluniarem outras. É uma forma de querer rebaixá-las.

Carlos Roberto Bacila (2005), também escreve sobre o tema: “Estigmas: um estudo sobre os preconceitos”, e elabora uma classificação de quatro estigmas fundamentais: raça, sexo, pobreza e religião, apresentando outros estigmas, a saber os “estigmas: do velho, do viciado, do gordo e do magro, do doente físico e mental, do homossexual, do criminoso, da prostituta e tantos outros”.

O estigma nasce de nossos preconceitos, ou seja, da dificuldade que temos em aceitar algo que não esteja em consonância com nossa confortável maneira de pensar. Nossos olhos estão acostumados a verem a realidade de uma maneia e quando a enxergam de modo diferente, gera-se o desconforto, o cérebro não compreende. Nossos olhos não estranham quando veem um indivíduo do sexo masculino calvo, mas já não é a mesma coisa quando se deparam com um indivíduo do sexo feminino calvo. Gera-se um estranhamento. Mulher sem cabelos nos remete imediatamente à tratamento contra o câncer. É algo negativo.

Assim sendo, segundo Bacila, o estigma tem um fator que está relacionado ao que denominou de meta-regras, que “atuam como regras a ditar nas mentes das pessoas: ali está o mal, o suspeito está ali, o mal sujeito que pode corromper minha família, a moça indecorosa, o produto do mal. O estigma só existe em razão das meta-regras”. Quantas meta-regras foram colocadas sobre os negros no percurso de nossa história? Tantas outras sobre o menor infrator, sobre a pessoa com vírus HIV, sobre a pessoa com Transtorno Mental. Temos uma meta-regra hoje de que o homossexual é uma afronta contra a família tradicional.

A meta-regra é um falso mito que condiciona negativamente as pessoas, a sociedade, para uma atitude de preconceito que estigmatiza o indivíduo. Os meios de comunicação são os vilões que fortemente contribuem para o fortalecimento das meta-regras. O que não dizer ainda dos fake News? Tem sido os meios modernos propagadores de meta-regras. 

O convite nesse texto é para que fiquemos atentos às meta-regras. Como diz ainda Bacila, “os estigmas foram verdadeiramente racionalizados nas batalhas, na luta pelo poder, nos discursos políticos. Uma Guerra Santa? Por que? Simplesmente porque não se valoriza a ética do outro, não se respeita a personalidade alheia, a cultura diferente, os hábitos desconhecidos, a cor da pele, a maneira de falar (beriberiberi, donde, ‘bárbaros’), o modo de ser e, então, trata-se como outsider. O estigma sempre foi o pano de fundo das grandes discórdias da humanidade. Valeria a pena reler a história com a lente que vê estigmas”.

Para finalizar a construção desse texto, trago à tona Arthur da Távola (1936-2008), fazendo a citação de uma parte de seu texto “A alma dos diferentes”:

“- Se o diferente se mediocrizar, mergulhará no complexo de inferioridade.O diferente paga sempre o preço de estar - mesmo sem querer - alterando algo,ameaçando rebanhos, carneiros e pastores.

- O diferente suporta e digere a ira do irremediavelmente igual:a inveja do comum; o ódio do mediano.O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão, mas que está sempre certo.

- O diferente começa a sofrer cedo, já no primário, onde os demais de mãos dadas,e até mesmo alguns adultos por omissão,se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial em aleijão e caricatura”.

 

Paz e bem!

Rev. Benedito Carlos Alves dos Santos










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