Olá querido (a) leitor (a), quanto tempo se passou desde o último artigo. Mas cá estamos nós de volta. Um novo ano se iniciou e quantas coisas já fizemos e quantas ainda por se fazer.
Quero falar um pouco com vocês sobre o ser profeta em tempos atuais. Será muito diferente de outros tempos? Já ouvi muitas vezes falar que o profeta é um inconformado. Alguém que mesmo que não queira, acaba sempre incomodado com a situação de injustiça. O profeta é aquele que sempre vê além de seu tempo. Ele não consegue ficar calado diante de situações que ferem os olhos. Isso não foi diferente para os profetas bíblicos de outrora e nem para o Grande Mestre Jesus. Poderíamos ainda dar exemplo de profetas até mesmo fora da linha cristã. São muitos, pois ser profeta não é um privilégio cristão.
Existe um trecho de uma música de Antônio Cardoso, com o título “Se Calarem a Voz dos Profetas”, que nos ajuda em muito pensar sobre o tema aqui proposto:
Se calarem a voz dos profetas
as pedras falarão
Se fecharem os poucos caminhos
mil trilhas nascerão.
Muito tempo não dura a verdade
nessas margens estreitas demais
Deus criou o infinito pra vida ser sempre mais.
Vejam, “se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão”, ou seja, um profeta não consegue ficar calado. Algo dentro dele grita e se tentarem calar sua voz, as pedras terão que falar por ele, pois o que ele vê é algo que está anormal. “Se fecharem os poucos caminhos, mil trilhas nascerão”, ou seja, aqui temos o sentido de que não é calando a voz de um profeta que o mal estará livre para reinar. Deus suscitará novos profetas. O profeta tem dentro de si o ideal de um mundo fraterno onde o amor passa a ser a medida. Diz que “o sangue um profeta é sementeira de novos profetas”.
Se olharmos para Jesus, o Nazareno, vamos ver um verdadeiro modelo de profeta, homem que não se conformava com a injustiça, homem que várias vezes gritou contra as estruturas de poder que limitavam o amor de Deus. Jesus lhes disse: "Só em sua própria terra, entre seus parentes e em sua própria casa, é que um profeta não tem honra" (Mc 6,1-6). Jesus foi condenado à morte porque incomodou, era inconformado com o que via.
O mestre em Teologia João Rainer Buhr, em seu trabalho de pesquisa apresentado em 2017, que teve como título, “O sofrimento de Jeremias”, apresentou algumas causas do sofrimento do profeta: “Jeremias sofre porque vê o povo sedo castigado”, assim sendo, não se conforma com a injustiça; “sofre porque queriam matá-lo”, pois uma vez que não se conforma ele reage, denuncia; “sofre por causa da oposição que fazem à sua mensagem”, pois um pobre profeta tem que lidar com forças poderosas que manipulam e deturpam sua mensagem; “sofre por causa da solidão”, pois poucos se aventuram a seguir a maratona de uma profeta e assim terá poucos fãs, e por último, sofre ainda “por causa das falsas acusações, surras e prisões”.
Ser um profeta não é algo tão agradável. O que você acha?
Rev. Benedito Carlos (Psicólogo e Mestre em Ciências da Religião).