Botucatu, segunda-feira, 15 de Dezembro de 2025

Colunista Rev. Benedito Carlos Santos Reverendo Anglicano, Psicólogo
22/03/2019

Direitos e Deveres



Dia desses ouvi alguém da área jurídica dizer que hoje estamos vivendo em tempos de uma sociedade do “tenho direitos” sem consciência do “tenho deveres”. No dia a dia percebemos o quanto as pessoas reivindicam direitos, mas vemos ainda o quanto têm dificuldades de assumirem deveres. Em tempos de “pós-modernidade”, acabamos confundindo reivindicações com imediatismos. Confundimos garantir direitos com intolerância nas relações. Em nome dos “meus direitos” desrespeitamos o espaço do outro, agredimos e agimos injustamente.

Hoje fala-se do “politicamente correto, isso pode, isso não pode” e, mesmo assim vemos quase que impregnado, uma “política da corrupção”. É o que George Orwell (1984) chamou de “distopia”, ou seja, a capacidade que adquirimos de criticar algo como errado quando se trata ao outro, mas fazer o mesmo ato, justificado como certo quando me beneficia. Alguns autores vão chamar a isso de “duplipensamento”. Outrora dizíamos: faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Como já dizia minha mãe: “pimenta nos olhos do outro é refresco”.

Minha consciência muitas vezes não me acusa, mas minha consciência tem sido capaz de criticar e denunciar aquilo que não me é favorável, ou que não me agrada. Assim vamos reforçando, já em nossas crianças, em relação à até mesmo à escola, “tenho direitos”. Com isso estamos colhendo muito sofrimento, pois valores vão sendo destruídos em nome de uma má interpretação de que existem direitos sem deveres e sem responsabilidades. Ao caos que tudo isso cria, buscamos a alternativa do “bode expiatório”.

Sabe-se que o bode expiatório não é algo novo. Nos primeiros personagens bíblicos Adão e Eva (Gên 3,1-13), já temos evidências de nossa falta de maturidade quando não queremos nos responsabilizar com nossas ações. Adão questionado, joga a culpa para Eva. Eva por sua vez joga a culpa para a serpente. De quem é a culpa? A culpa talvez seja de nossas omissões quando deveríamos nos responsabilizar. A culpa é quando por conveniência aceitamos algo em nós que no outro não aceitaríamos. Isso acontece diariamente conosco e a tentação é grande.

Adão e Eva, como crianças, tiveram medo de Deus e por isso acharam conveniente apontar para a serpente ao invés de assumirem suas livres escolhas. Não quiseram pagar o preço das consequências de suas escolhas. Seria certo acusarmos a “Momo” pelo comportamento de algumas de nossas crianças? Ela não seria apenas mais um bode expiatório pós-moderno?

Paz e Bem!

Rev. Benedito Carlos Alves dos Santos (Psicólogo e Mestre em Ciências da Religião).










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