Por: Quico Cuter
Fotos: Valéria Cuter
Em 2015 foram 10 pessoas voluntárias que se submeteram aos testes; em 2016 esse número aumentou para 30 pacientes, todos em Botucatu, mas para 2017 a previsão é dar atendimento a 150 pessoas, com um diferencial: o produto deixa de ser aplicado somente em Botucatu e será usado em outros hospitais do Brasil
O professor/doutor Rui Seabra Ferreira Filho aponta que em 2017 os testes com o selante de fibrina, produto extraído do veneno da cascabel, entra na sua terceira e decisiva fase com a aplicação do produto que auxilia na cicatrização de feridas, em especial pacientes com úlceras venosas crônicas. Pesquisa foi desenvolvida pelo Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap) da Unesp de Botucatu, na Fazenda Lageado, na Unidade de Pesquisa Clínica (Upeclin), sob a supervisão dos professores/doutores, Rui Seabra Ferreira Júnior e Benedito Barravieira.
O bioproduto, criado a partir da mistura de uma enzima extraída do veneno da cascavel com fibrinogênio de sangue de búfalos, auxilia na cicatrização de feridas. Em 2015 foram 10 pessoas voluntárias que se submeteram aos testes. Em 2016 esse número aumentou para 30 pacientes. Todos em Botucatu. Para 2017 a previsão é dar atendimento a 150 pessoas, com um diferencial: o produto deixa de ser aplicado somente em Botucatu e será usado em outros hospitais do Brasil.
“A eficácia do produto já está comprovado e todos os testes que fizemos mostraram bastante eficácia. Estamos esperando o registro para que possa ser comercializado e usado em grande escala, inclusive em pacientes através do Sistema Único de Saúde (SUS)”, coloca Rui Seabra . “A matéria prima usada foi o veneno da cascavel, por ser uma cobra comum no Brasil e tem volume de veneno bastante satisfatório para nossas pesquisas. Outras serpentes venenosas também poderão ser usadas na fabricação do produto”, acrescenta.
Rui Seabra aponta que o selante é um bioproduto 100% nacional, feito a partir da mistura de uma enzima extraída do veneno de serpentes com fibrinogênio de sangue de grandes animais (bubalinos, equinos, bovinos ou ovinos), cuja ação se baseia no princípio natural da coagulação. Foi criado e desenvolvido a partir da necessidade de substituir o sangue humano utilizado nos selantes comerciais por derivados sintéticos ou de animais, evitando, assim, a transmissão de doenças infecciosas veiculadas pelo sangue humano. Por ser biológico, não causa rejeição e, portanto, é uma excelente alternativa para engenharia de tecidos e celular.
“Após o registro do produto junto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a validação de todos os métodos de produção, o legado deste projeto à Universidade será enorme em avanços biotecnológicos. O importante é que conseguimos transpor a distância existente entre a pesquisa fundamental e a aplicada, com a possibilidade de retornar à população parte dos recursos investidos na universidade pública, na forma de um produto que ajudará a melhorar a qualidade de vida das pessoas. Isto deve-se ao fato de o produto ter sido aprovado pela Anvisa e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para a realização de ensaios clínicos na Upeclin”, explica Rui Seabra.