Dedo na ferida

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Botucatu, terça-feira, 29 de Abril de 2025

Política
04/08/2018

Só mesmo a força do voto tem o poder de extirpar o político corrupto



Dedo na ferida

Por Quico Cuter

 

Disse eu uma vez num artigo,  acho que em 2010, que não conseguia enxergar uma luz no fim do túnel para o Brasil. E hoje, em 2018, confirmo isso com todas as letras. E ainda ressuscitando uma frase inteligente do ex-ministro Pelé (e olha que ele não costuma ser feliz quando tece seus comentários).

Ele foi o maior de todos no futebol. Dentro do campo, incomparável!  Um verdadeiro rei na acepção da palavra. Ficou famoso por sua genialidade com a bola nos pés, mas também ganhou notoriedade pela infelicidade de suas declarações. Mas ele “arrumou” essa frase, lá nos anos 70, que faz muito sentido. Disse Pelé: “O povo brasileiro não sabe votar”. E acho que tinha razão nosso ex-ministro.

Se o povo brasileiro está nesse caos social, muito é por causa das escolhas infelizes que fazem os eleitores dos nossos representantes no Congresso Nacional onde estão as grandes ratazanas e ladrões notórios do erário da República. Claro que não se pode generalizar, mas, convenhamos, que poucos, mas muito poucos mesmo passam pelo buraco da peneira.

E onde as leis são feitas é dominado por um grupo de deputados (a maioria deles respondendo processos por corrupção e improbidade administrativa), que se intitula “Centrão” criado pelo presidiário Eduardo Cunha (aquele). O tal do Centrão acumula mais de 300 votos dos 513 possíveis na Câmara dos Deputados. Com esse poder de votos pode barrar ou fazer passar qualquer projeto. E cada voto custa caro, viu?

Em consequência disso, independente de quem for o presidente da República é esse Centrão que irá ditar as normas, comandar os principais ministérios, secretariados e os altos cargos no primeiro, segundo e terceiro escalão do governo. O presidente eleito já fica refém desta cambada, antes mesmo de assumir. E a negociata corre solta nos corredores. Uma libertinagem política explícita aos olhos incrédulos dos brasileiros.

E sai ano entra ano os candidatos são sempre os mesmos. Sempre eles, né Pelé? A renovação está muito aquém do que seria necessário para tirar as batatas podres do saco. Mas eles construíram verdadeiros impérios em seus redutos eleitorais. São donos de fazendas, rádios, televisões, empresas, enfim se apropriaram dos estados que “representam”,  tendo os eleitores na palma das mãos. E, com isso, se reelegem eleição após eleição. E as aulas de corrupção e do enriquecimento ilícito passam de geração para geração. O avô ensina o filho, que ensina neto, que ensina o bisneto e assim vai. Dane-se o Brasil!  Jesus me salve!

Com isso, pessoas bem intencionadas, com projetos transformadores em áreas estratégicas para melhorar a qualidade de vida do cidadão como Saúde, Educação, Segurança, Saneamento Básico, Habitação Popular, entre outras, evitam a política e não se habilitam a candidatar e competir contra caminhões de dinheiro despejados  nas campanhas dos velhos políticos de sempre. Dinheiro público, diga-se de passagem. E volto a me lembrar do Pelé: o povo é quem escolhe. E mal! E só o povo pode mudar essa conjuntura no Brasil e extirpar o político inescrupuloso e rapace do Congresso Nacional, mas isso é um sonho numa noite de verão. Me ajude aí, Pelé!

E em se tratando de política e Congresso Nacional não podemos nos esquecer um dos casos mais esdrúxulos praticados em 2016 pelo Senado, com a votação pelo impeachment da então presidente Dilma Vana Rousseff. Nesse fatídico episódio, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski rasgou a Constituição. Pelo artigo 52 o presidente ao sofrer o impeachment, também tem seus direitos políticos cassados por oitos anos. Aconteceu isso com Fernando Collor de Mello, em 1992, que perdeu a presidência e ficou inelegível por oito anos.

Porém, na votação contra Dilma, Ricardo Lewandowski encontrou uma maneira de “fatiar” o artigo 52. Ou seja, colocou em votação o impeachment da presidente que foi aprovado e em seguida fez nova votação para que Dilma mantivesse seus direitos políticos preservados. O artigo 52 em seu parágrafo único demonstra a óbvia indissociação das penas. Diz o texto: “condenação (…) à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública”.  Quem votou favorável a esse escárnio só vislumbrou uma coisa: seu futuro. Meu Deus me acode!

Com isso, passados dois anos do impeachment, a economista de Belo Horizonte,  Dilma Rousseff é candidata ao Senado Federal por Minas Gerais e se eleita for, pode cair em seu colo um mandato de oito anos.  Por isso é que lá em Brasília tudo pode e o político faz o que bem entende. E há quem diga que existem ministros no Supremo que agem mais como advogados dos “engravatados” do que como juízes. Diga alguma coisa, Pelé!

Foto – Ilustrativa/Divulgação










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