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03/06/2017

Marcos Valério, operador do Mensalão, coloca PT no assassinato de Celso Daniel



Foto - Divulgação

Publicitário vem negociando sua delação premiada e disse que o ex-prefeito, pouco antes do assassinato, ia entregar um dossiê para a Polícia Federal e para o presidente Lula, envolvendo petistas com o crime organizado

 

Em setembro de 2012, o publicitário Marcos Valério prestou depoimento ao Ministério Público Federal e revelou que  foi informado em 2004 pelo secretário-geral do PT, Silvio José Pereira, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava sendo chantageado. A conversa entre os dois ocorreu dois anos após o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel. O publicitário disse que o empresário Ronan Maria Pinto exigia 6 milhões de reais para não divulgar informações relacionadas ao caso Santo André, envolvendo o presidente Lula, o ex-ministro José Dirceu e o então assessor particular Gilberto Carvalho.

Marcos Valério diz agora que quer  esclarecer todos detalhes da chantagem. Pelo menos foi o que ele garantiu à deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), que colheu um longo depoimento do publicitário: “O Valério me disse que Ronan ia apontar  o ex-presidente Lula como mentor do assassinato do Celso Daniel”, disse a deputada. Segundo ela, Valério garantiu ter as provas da chantagem.

A primeira conversa de Valério com a deputada foi no dia 11 de outubro. Ela foi ao presídio atender às reivindicações de presos portadores de necessidades especiais e encontrou o publicitário em uma das celas. No ano passado, Mara, que é filha de um empresário que foi extorquido pela quadrilha que atuava na Prefeitura de Santo André,  tinha entregado ao juiz Sérgio Moro um dossiê sobre o assassinato.  No dia 3 de abril, Mara enviou um ofício ao procurador de Justiça de São Paulo, Gianpaolo Smanio, narrando as conversas com o publicitário e pedindo andamento às investigações do crime.

“Ele (Valério) deixou muito claro que o senhor Ronan Maria Pinto ia entregar o senhor Luiz Inácio Lula da Silva para a polícia como mentor do assassinato do prefeito Celso Daniel”, escreveu a deputada. Para ela, o depoimento de Valério pode ajudar a desvendar o crime.

Valério já vem negociando sua delação premiada com três promotores de Minas Gerais e dois procuradores da República. O publicitário disse que o ex-prefeito, pouco antes do assassinato, ia entregar um dossiê para a Polícia Federal e para o presidente Lula, envolvendo petistas com o crime organizado. Após o envio do ofício da deputada ao procurador de Justiça de São Paulo, dois promotores foram visitá-lo. O  publicitário quer depor  somente à Polícia Federal.

Perguntado sobre a acusação, Ronan, por intermédio de seu advogado, informou que jamais chantageou quem quer que seja.   A  assessoria do ex-presidente Lula não comentou.

 

O crime

O prefeito de Santo André, Celso Daniel, foi assassinado em janeiro de 2002, quando começava a coordenar a campanha presidencial do então candidato Lula da Silva. Santo André compõe a região do ABC, junto com os municípios vizinhos de São Bernardo e São Caetano, famosa pelas indústrias automobilísticas ali instaladas desde os anos 70.

Passados 15 anos, as circunstâncias da morte de Celso Daniel voltou à baila por meio da Lava Jato, que enxerga no episódio um potencial esqueleto no armário do PT. O então prefeito foi morto depois de ser sequestrado e torturado. Foi arrancado por seus algozes de um carro dirigido pelo seu segurança, Sergio Soares da Silva, o Sombra.

Em julho daquele ano, a Polícia Civil de São Paulo encontrou os assassinos de Daniel, uma quadrilha comandada por Ivan Rodrigues da Silva, conhecido como Monstro, que atuava na favela Pantanal, na divida de Diadema, cidade vizinha de Santo André. A publicidade do caso o fez correr de maneira célere, a pedido do então presidente Fernando Henrique Cardoso, que em 2002 vivia seu último ano de mandato.

Monstro já era conhecido da Divisão Anti-Sequestro da polícia, por outros crimes similares cometidos nos anos anteriores. O sequestro seguido de morte de Daniel seguia o mesmo padrão – escolher vítimas que estivessem em carros de luxo, em sequestros curtos, para exigir dinheiro e liberá-los. Mas alguns casos haviam terminado em morte sem motivo aparente. Era o caso do prefeito. A polícia concluiu que se tratava de um crime comum praticado pelo bando de Monstro.

O assunto, porém, teve diversas idas e voltas na Justiça pelos elementos reunidos nessa trama. Além de ser ligado ao PT, Celso Daniel, que foi prefeito de Santo André três vezes, tinha Sombra como homem de confiança, e era próximo do empresário Ronan Maria Pinto – preso pela Lava Jato – que estaria ligado a um esquema de extorsão em empresas de ônibus da região. Um esquema do qual Daniel tinha conhecimento, ao que tudo indica. Essa tese implicaria o PT, pois o partido se beneficiaria dos recursos desviados.

Quinze anos depois, Ronan Pinto, empresário do setor de ônibus e dono do jornal Diário do Grande ABC, foi preso por uma suspeita levantada pelo time do juiz Sergio Moro, que traz de volta esse crime. O empresário é suspeito de ter recebido 6 milhões de reais, em 2004, por intermédio do pecuarista João Carlos Bumlai, amigo de Lula, a pedido do PT. A tese da força tarefa da Lava Jato é que o dinheiro pode ser fruto de propina paga pelo partido para que ele não revelasse detalhes da morte de Daniel, que implicariam o PT.

Fonte - Portal MSN










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