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Em sua carta Geddel afirma que tomou a decisão "diante da dimensão das interpretações dadas" ao episódio e do "sofrimento dos meus familiares", com a repercussão do caso
Envolvido em acusações de tráfico de influência para liberar a obra de um prédio onde comprou apartamento, em Salvador, o ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria do Governo) pediu demissão do cargo. Isso aconteceu dias depois de ser acusado pelo ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero de ter feito pressão para que um empreendimento imobiliário de alto padrão em Salvador, Bahia, fosse autorizado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Geddel teria interesse na liberação da obra, pois é proprietário de um dos apartamentos.
O empreendimento imobiliário, segundo Calero, foi embargado pela direção nacional do órgão em razão de estar localizado em uma área tombada como patrimônio cultural da União, sujeito a regramento especial. Os construtores, afirmou o ex-ministro à publicação, pretendem erguer um prédio com 31 andares, mas o Iphan autorizou a construção de, no máximo, 13 andares. Em razão dessa pressão que garante ter sofrido, Calero decidiu pelo seu pedido de demissão do ministério da Cultura.
A demissão de Geddel chega um dia após ser tornado público o depoimento de Calero à Polícia Federal. Além de Geddel ele também cita o presidente da República, Michel Temer e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. A PF remeteu o depoimento de Calero ao STF. A Procuradoria-Geral da República estudava abrir um inquérito contra Geddel para investigar a suposta pressão sobre o Iphan.
Em sua carta de demissão, Geddel afirma que tomou a decisão "diante da dimensão das interpretações dadas" ao episódio e do "sofrimento dos meus familiares", com a repercussão do caso. Ele é o sexto ministro do governo Temer a cair, em seis meses.
A Comissão de Ética da Presidência da República também abriu uma investigação sobre o caso. O presidente da comissão, Mauro Menezes, afirmou hoje que o processo contra Geddel continua a tramitar mesmo após o pedido de demissão, pois ex-autoridades também podem ser punidas com a pena de censura.
Geddel confirmou ter conversado com Calero sobre o prédio em construção, mas negou ter exercido pressão para que o Iphan liberasse a obra. Em nota, Temer confirmou ter tratado por duas vezes com Calero sobre a divergência com Geddel, mas negou ter pressionado o então ministro da Cultura a modificar decisão do Iphan.
O presidente disse que sugeriu ao ministro que o tema fosse submetido à avaliação jurídica da AGU (Advocacia-Geral da União), pois o órgão federal teria "competência legal para solucionar eventuais dúvidas entre órgãos da administração pública". Também por meio de nota, Padilha afirmou que procurou Calero para "sugerir" que fosse buscada uma solução jurídica para o embargo do prédio pelo Iphan junto à AGU.
Padilha cita que a AGU tem o poder de resolver impasses jurídicos entre órgãos da administração federal. No caso do prédio na Bahia, departamento nacional do Iphan decidiu embargar a obra depois de a construção ter sido autorizada por um parecer da superintendência baiana do Iphan.
Geddel é presidente do PMDB na Bahia e é um dos políticos mais influentes do estado. No Palácio do Planalto, até então, era responsável pela articulação política do governo federal com o Congresso Nacional.
Leia a íntegra da carta de demissão de Geddel:
"Meu fraterno amigo presidente Michel Temer,
Avolumaram-se as críticas sobre mim. Em Salvador, vejo o sofrimento dos meus familiares. Quem me conhece sabe ser esse o limite da dor que suporto. É hora de sair.
Diante da dimensão das interpretações dadas, peço desculpas aos que estão sendo por elas alcançados, mas o Brasil é maior do que tudo isso.
Fiz minha mais profunda reflexão e fruto dela apresento aqui este meu pedido de exoneração do honroso cargo que com dedicação venho exercendo.
Retornando à Bahia, sigo como ardoroso torcedor do nosso governo, capitaneado por um presidente sério, ético e afável no trato com todos, rogando que, sob seus contínuos esforços, tenhamos a cada dia um país melhor.
Aos congressistas, o meu sincero agradecimento pelo apoio e colaboração que deram na aprovação de importantes medidas para o Brasil.
Um forte abraço, meu querido amigo.
Geddel Vieira Lima"
Fonte: Portal UOL