Por: Quico Cuter
Foto: Valéria Cuter
Hoje a unidade de Botucatu tem espaço físico para alojar até 65 adolescentes e, atualmente, conta com uma população flutuante que gira torno de 60 garotos, vindos de várias cidades da região
Diferentemente da média geral das outras 144 unidades das Fundações do Centro de Atendimento Socioeducativa ao Adolescente (CASA), em Botucatu a média de internos por envolvimento com o tráfico de entorpecentes gira em torno de 90% enquanto em outras unidades a média é de, aproximadamente, 50%. Somando todas as unidades paulistas chega-se a mais de 9.500 internos, sendo 95% deles do sexo masculino.
Hoje a unidade de Botucatu tem espaço físico para alojar até 65 adolescentes e, atualmente, conta com uma população que gira torno de 60 garotos, vindos de várias cidades da região. São Manuel é a cidade que mais conta com infratores internados: 50%. Os restantes são de Botucatu, Itatinga, Lençóis Paulista, Laranjal Paulista, Barra Bonita, entre outras.
O prazo médio de internação fica em torno de um ano e nesse período os adolescentes passam por um processo de readaptação e ressocialização, contando com diferentes cursos profissionalizantes, assim como atividades culturais e esportivas, além, é claro, de estudar e ter acompanhamento médico, odontológico e psicológico. A direção da unidade busca manter a mente do adolescente ocupada durante todo dia. Por isso, em Botucatu são raros os casos de indisciplina, insubordinação ou rebelião.
“A gente procura ajudar o máximo o adolescentes durante sua internação e conhecer os problemas de cada um. Grande parte dos garotos que estão aqui vem de famílias desestruturadas e acabam na criminalidade. Temos casos em que o adolescente, após cumprir seu período de internação, não quer ir embora, pois sabe que lá fora não terá o mesmo tratamento que tem aqui. É uma situação triste, mas real”, disse um dos educadores.
Vara da Infância
Sobre o índice de internos ligados ao tráfico de entorpecentes na Fundação CASA de Botucatu, o juiz da Vara da Infância e Juventude, Josias Martins de Almeida Júnior, reflete que os adolescentes acabam entrando para a criminalidade, incentivados principalmente por traficantes que oferecem o ganho do dinheiro fácil eles são levados ao crime, pois vêem a possibilidade de sustentar suas famílias e na maioria dos casos sustentar o próprio vício ocasionando um grave conflito social.
“Posso dizer que 90% dos atos infracionais praticados por adolescentes estão relacionados ao tráfico. É preocupante porque o tráfico tem acabado com a infância, tem acabado com a juventude do adolescente e afetado diretamente sua família. Hoje as drogas, principalmente o crack, é um fator decisivo na prática do crime”, frisou Josias Júnior.
Magistrado realça que se mostra rigoroso com essa situação e aplicado medidas de internação para que o adolescente tenha um atendimento médico, psicológico e de drogadição. “Muitas vezes ao internar um menor por um determinado período, estamos, sim, protegendo sua vida. E não podemos nos esquecer que o adolescente que vem de uma família desestruturada está mais vulnerável para entrar na criminalidade. Tirar o adolescente desse ambiente é a nossa obrigação, é obrigação da sociedade“, finalizou o juiz.
Delegado da DISE
O delegado titular da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (DISE), Paulo Fábio Buchignani, aponta que o aumento significativo de menores no tráfico passa por problemas sociais, como má formação escolar e educacional, muitas vezes, face a desestrutura familiar. O jovem não quer saber de estudar mais. Não se interessa em buscar um melhor desenvolvimento e um trabalho de melhor remuneração ou coisa assim. Acabam recrutados pelo crime e pelo tráfico e com isso, ganham dinheiro e notoriedade no meio onde vivem e chegam a disputar entre eles, perante o dono da biqueira, para conseguirem um lugar para vender droga.
“No meu entender seria necessária uma repressão ainda mais rigorosa, para aqueles que já fazem parte do contexto criminal de uso e tráfico e uma forte política de prevenção e educação, para evitar que crianças e jovens que ainda não ingressaram nesse mundo, o façam”, coloca Buchignani. “Por hora, o conselho é que cada pai, cada mãe, cuide muito bem de seus filhos”, complementa.