Botucatu, terça-feira, 29 de Abril de 2025

Segurança
06/10/2017

Fundação CASA de Botucatu tem 90% dos internos envolvidos com o tráfico



Fotos - Valéria Cuter

Hoje a unidade de Botucatu tem espaço físico para alojar até 65 adolescentes e, atualmente, abriga 60 garotos e também atende outras cidades da região como: São Manuel, Itatinga, Lençóis Paulista, Laranjal Paulista, Barra Bonita, entre outras

 

Uma reportagem publicada esta semana no Portal Uol revela que a proporção de reinternações no sistema socioeducativo paulista bateu recorde este ano e já atingiu o maior patamar desde 2007, primeiro ano que funcionou a Fundação  do Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA). A taxa se aproxima, ano a ano, ao que era o índice da antiga Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (FEBEM).

Para especialistas, falhas no diálogo entre órgãos responsáveis por políticas socioeducativas e no acompanhamento dos jovens liberados explicam o quadro. A atribuição não é só do governo estadual. Desde 2010, cabe aos municípios coordenar as medidas socioeducativas sem privação de liberdade, como advertência e prestação de serviços comunitários. A crise econômica no País, que reduz as oportunidades de emprego aos jovens mais pobres, também contribui.

Diferentemente da média geral da maioria das outras 144 unidades das Fundações espalhadas pelo interior do estado,  em Botucatu a internação por envolvimento com o tráfico de entorpecentes gira em torno de 90% enquanto em outras unidades a média é de, aproximadamente, 50%.  Somando todas as unidades paulistas chega-se a 9.500 internos, sendo 95%  deles do sexo masculino.

Hoje a unidade de Botucatu tem espaço físico para alojar até 65 adolescentes e, atualmente, abriga 60 garotos e também atende outras cidades da região como: São Manuel, Itatinga, Lençóis Paulista, Laranjal Paulista, Barra Bonita, entre outras.

O prazo médio de internação gira em torno de um ano e nesse período os adolescentes passam por um processo de  readaptação e ressocialização,  contando com diferentes cursos profissionalizantes, assim como atividades culturais e esportivas, além, é claro, de estudar e ter acompanhamento médico, odontológico e psicológico. A direção da unidade busca manter a mente do adolescente ocupada durante todo dia. Por isso, em Botucatu são raros os casos de indisciplina, insubordinação ou rebelião.

“A gente procura ajudar o máximo o adolescentes durante sua internação e conhecer os problemas de cada um. Grande parte dos garotos que estão aqui vem de famílias desestruturadas e acabam na criminalidade. Temos casos em que o adolescente, após cumprir seu período de internação,  não quer ir embora, pois sabe que lá fora não terá o mesmo tratamento que tem aqui. É uma situação triste, mas real”, disse um dos educadores.

 

Vara da Infância

Sobre o índice de internos ligados ao tráfico de entorpecentes na Fundação CASA de Botucatu, o juiz  da Vara da Infância e Juventude, Josias Martins de Almeida Júnior,  reflete que  os adolescentes acabam entrando para a criminalidade, incentivados principalmente por traficantes que oferecem o ganho do dinheiro fácil eles são levados ao crime, pois vêem a possibilidade de sustentar suas famílias e na maioria dos casos sustentar o próprio vício ocasionando um grave conflito social.

“Posso dizer que 90% dos atos infracionais praticados por adolescentes estão relacionados ao tráfico. É preocupante porque o tráfico tem acabado com a infância, tem acabado com a juventude do adolescente e afetado diretamente sua família. Hoje as drogas, principalmente o crack, é um fator decisivo na prática do crime”, frisou Josias Júnior.

Magistrado realça que se mostra rigoroso com essa situação e aplicado medidas de internação para que o adolescente tenha um atendimento médico, psicológico e de drogadição. “Muitas vezes ao internar um menor por um determinado período, estamos, sim, protegendo sua vida. E não podemos nos esquecer que o adolescente que vem de uma família desestruturada está mais vulnerável para entrar na criminalidade. Tirar o adolescente desse ambiente é a nossa obrigação, é obrigação da sociedade“, finalizou o juiz.

 

Delegado da DISE

O delegado titular da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (DISE), Paulo Fábio Buchignani,  aponta que o aumento significativo de menores no tráfico passa por problemas sociais, como má formação escolar e educacional, muitas vezes, em face de desestrutura familiar.

“O jovem não quer saber de estudar mais. Não se interessa em buscar um melhor desenvolvimento e um trabalho de melhor remuneração ou coisa assim. Acabam recrutados pelo crime e pelo tráfico e com isso, ganham dinheiro e notoriedade no meio onde vivem e chegam a disputar entre eles, perante o dono da biqueira, para conseguirem um lugar para vender droga”, coloca Buchignani.

No entender do delegado seria necessária uma repressão ainda mais rigorosa, para aqueles que já fazem parte do contexto criminal de uso e tráfico e uma forte política de prevenção e educação, para evitar que crianças e jovens que ainda não ingressaram nesse mundo, o façam.  “Por hora, o conselho é que cada pai, cada mãe, cuide muito bem de seus filhos”, complementa.

 

Super Zé

O ex-jogador José Maria Rodrigues Alves, o Super Zé, que nasceu na Fazenda Lageado em Botucatu e foi (e continua sendo) um dos maiores ídolos da torcida corintiana de todos os tempos, é o coordenador,  já há 16 anos,  das atividades esportivas nas unidades das Fundações de São Paulo.

Zé Maria revela que procura conversar com os meninos para lhes passar um pouco da sua formação, educação e da sua experiência, para que possam voltar ao caminho do bem. “Você acaba contando um pouco da sua história, da sua vida, das dificuldades, da importância e disciplina. Damos algumas pinceladas sobre o uso de coisas indevidas nas nossas conversas. Tento passar para eles a importância de ter uma boa educação, de respeitar o profissional para ser respeitado, e o esporte tem sido uma ferramenta para isso. Não visamos à formação de profissionais no esporte. É muito mais pelo lado social”, diz.










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