O delegado Celso Olindo, orienta que a pessoa idosa não deve ir sozinha ao banco para fazer transações bancárias, pois o vigarista está sempre à espreita aguardando a oportunidade de agir
Embora seja antigo, manjado e amplamente divulgado, as polícias Militar e Civil, assim como a Guarda Civil Municipal, continuam registrando, regularmente, casos de pessoas que são lesadas por estelionatários com o golpe do bilhete premiado. Idosos são as principais vítimas e muitos não dão queixa por vergonha. Por isso, não há estatísticas unificadas sobre este crime de estelionato e boa parte acaba não sendo notificado às autoridades.
Geralmente, a vítima é abordada na rua por uma pessoa desconhecida, mostrando preocupação, que se diz analfabeta e procura um endereço. Traz em mãos um bilhete supostamente premiado e diz que precisa de ajuda para sacar a “bolada”. Enquanto conversam, outra pessoa (comparsa) bem-vestida se aproxima perguntando se precisam de ajuda. Inteirada da situação, finge ligar para um conhecido da Caixa Econômica Federal, que confirma que o bilhete é, realmente, premiado.
Depois de muita conversa, o golpista propõe dar um percentual do prêmio se os dois a ajudarem, mas ela precisa de alguma garantia de que pode confiar naquelas pessoas. Com isso a vítima saca dinheiro e entrega a dona do bilhete. Dando uma desculpa qualquer a dupla de golpistas se afasta da vítima e desaparece.
Esse tipo de golpe foi tema do livro do professor de história contemporânea na Faculdade Cásper Líbero, intitulado "Os Contos e os Vigários - Uma História da Trapaça no Brasil”, baseado em sua tese de doutorado em história cultural. Durante a pesquisa para a produção do trabalho, encontrou uma reportagem publicada em maio de 1885 sobre "bilhetes falsos de loteria", oferecidos a preços reduzidos em São Paulo por um italiano.
Uma novidade daquela época, que segundo Dias Júnior multiplicou a eficiência e proporcionou a sobrevida ao golpe, foi realçar a fragilidade do golpista. Para isso, houve um tiro certeiro em São Paulo: usar a figura do caipira ingênuo, analfabeto e ignorante, considerado inferior pelos habitantes da cidade. Com talento dramático, que muitos atores profissionais não têm, eles interpretam de improviso, pois o diálogo nunca é o mesmo.
O delegado da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), de Botucatu, Celso Olindo, orienta que a pessoa idosa não deve ir sozinha ao banco para fazer transações bancárias, pois o vigarista pode estar à espreita aguardando a oportunidade para agir.
“Caso uma pessoa seja abordada do lado de fora do banco por um desconhecido que oferece ganho do dinheiro fácil deve comunicar a polícia. Depois do crime consumado, fica difícil identificar os criminosos. Por isso temos que ter muito cuidado”, alerta Olindo.
O delegado dá um exemplo do poder de convencimento dos estelionatários. “Tivemos dois casos recentes em que as vítimas foram lesadas e não acreditaram que haviam sido lesadas, mesmo tendo feito o saque e entregado dinheiro aos criminosos que desapareceram. Foi difícil pra nós convencer que elas haviam caído no golpe”.