Botucatu, terça-feira, 29 de Abril de 2025

Segurança
02/05/2018

Delegado da DISE aponta que a sociedade está perdendo a batalha para o tráfico



Por: Quico Cuter

Apesar do trabalho ininterrupto dos policiais da delegacia especializada e das demais forças policiais, o tráfico continua acontecendo em grande escala, assim como o aumento do número de usuários

 

No cotidiano das ocorrências policiais de Botucatu um crime que está sempre em evidência é o relacionado ao tráfico de entorpecentes. Isso acontece em todas as regiões da Cidade, apesar do trabalho que vem sendo desenvolvido pelas forças de segurança formada pelas polícias Civil e Militar e Guarda Municipal.

O delegado titular da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (DISE), Paulo Fábio Buchignani, que tem como delegado adjunto, Mauro Sérgio Rodrigues dos Santos, aponta que as ações vão desde grandes apreensões em operações estratégicas programadas com apoio do Serviço de Inteligência, a operações mais corriqueiras em pontos de venda de entorpecentes conhecidas como “biqueiras” espalhadas pela Cidade, sendo muitas delas “gerenciadas” por adolescentes, que enxergam no tráfico uma maneira fácil de ganhar dinheiro.

Apesar desse trabalho ininterrupto dos policiais da delegacia especializada, o tráfico continua acontecendo em grande escala, assim como o aumento do número de usuários. Estimativa do delegado Paulo Buchignani, apenas de forma empírica, calcula que cerca de 25 mil pessoas são usuárias de entorpecentes em Botucatu, que tem uma população estimada em 140 mil habitantes. Em entrevista ao Portal Alpha Notícias, Buchignani, que tem mais de 27 anos dedicado ao trabalho policial, sendo 22 deles à frente da DISE, explana sobre o assunto.

 

AN - Sabidamente, o número de traficantes e usuários vem crescendo, gradativamente, nos últimos anos. Isso significa que a sociedade está perdendo a batalha para o tráfico?

Paulo Buchignani - Sem dúvida está perdendo. Mas não é em Botucatu, apenas. Aqui, ainda temos uma policia extremamente atuante, tanto a Civil, como a Militar e a Guarda Municipal. Porém, a maior arma contra o uso de droga, sem dúvida alguma, é a informação; a educação; a prevenção. E nesse contexto, não temos visto nada de maneira geral, articulada e eficiente. Então, a tendência é só piorar e falo isso há muito tempo.

 

AN - Em percentual, quais são as drogas mais consumidas e, evidentemente, mais traficadas em Botucatu? O que é feito do entorpecente que é apreendido?

Paulo Buchignani - A maconha ainda é a droga mais consumida, mas está sendo seguida de perto pelo crack, infelizmente. As drogas, quando apreendidas, são encaminhadas ao Instituto de Criminalística (IC), onde são periciadas e lacradas. Depois disso, aguarda-se a autorização judicial para a incineração delas e finalmente, são incineradas. Este ano, por exemplo, já foram incineradas mais de 1 tonelada de drogas, na nossa seccional.

 

AN - Nas prisões efetuadas no tráfico percebe-se que é grande a participação e reincidência de adolescentes. O que está levando o adolescente a se enveredar cada vez mais cedo para a traficância?

Paulo Buchignani - O aumento significativo de menores no tráfico passa por problemas sociais, como má formação escolar e educacional, muitas vezes, face a desestrutura familiar. O jovem não quer saber de estudar mais. Não se interessa em buscar um melhor desenvolvimento e um trabalho de melhor remuneração ou coisa assim. Na busca do ganho fácil são recrutados pelo crime e pelo tráfico e com isso, ganham dinheiro e notoriedade no meio onde vivem e chegam a disputar entre eles, perante o dono da biqueira, para conseguirem um lugar para vender droga. Outro fator que poderíamos citar, é o próprio sentimento de impunidade que impera dentre os adolescentes, face à legislação.

 

AN - Como evitar, então, que o jovem entre para o submundo do crime?

Paulo Buchignani - No meu entender seria necessária uma repressão ainda mais rigorosa, para aqueles que já fazem parte do contexto criminal de uso e tráfico e uma forte política de prevenção e educação, para evitar que crianças e jovens que ainda não ingressaram nesse mundo, o façam. Por hora, o conselho é que cada pai, cada mãe, cuide muito bem de seus filhos.

AN - Reza a lei que um cidadão adulto preso na traficância pode ser condenado a uma pena que varia de 5 a 15 anos de prisão. Porém, com as facilidades da lei, ele acaba em liberdade muito antes de a pena ser cumprida. O senhor defende uma lei mais rígida e eficaz para o crime de tráfico de entorpecentes?

Paulo Buchignani - A lei penal é boa. O que muitas vezes faz com que o preso saia da cadeia antes do tempo, é a lei de execução penal. Essa sim é que mereceria alguns ajustes.










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