Fotos: Valéria Cuter
Apesar do trabalho ininterrupto dos policiais da delegacia especializada e das demais forças policiais, o tráfico continua acontecendo em grande escala, assim como o aumento do número de usuários
O delegado titular da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (DISE), Paulo Fábio Buchignani, que tem como delegado adjunto, Mauro Sérgio Rodrigues dos Santos, realiza um grande trabalho no combate ao tráfico. Ações vão desde grandes apreensões em operações estratégicas programadas com apoio do Serviço de Inteligência, a operações mais corriqueiras em pontos de venda de entorpecentes conhecidas como “biqueiras” espalhadas em diferentes pontos da cidade, sendo muitas delas “gerenciadas” por adolescentes, que enxergam no tráfico uma maneira fácil de ganhar dinheiro.
Apesar desse trabalho ininterrupto dos policiais da delegacia especializada, o tráfico continua acontecendo em grande escala, assim como o aumento do número de usuários. Estimativa do delegado Paulo Buchignani, apenas de forma empírica, calcula que cerca de 25 mil pessoas são usuárias de entorpecentes em Botucatu, que tem uma população estimada em 140 mil habitantes. Em entrevista ao Portal Alpha Notícias, Buchignani, que tem 25 anos de Polícia, sendo 20 deles à frente da DISE, explana sobre o assunto.
Alpha Notícias - Antes de tudo, Dr. Paulo, gostaria que o senhor fizesse um levantamento das apreensões feitas este ano pela DISE e como é o funcionamento cotidiano da delegacia especializada que o senhor comanda.
Paulo Buchignani - Foram muitos flagrantes. Mais de 300 pessoas presas por tráfico de drogas, entre maiores e menores de 18 anos. Em quantidade, também tivemos quantidades significativas, do tipo, 100 quilos de maconha, em agosto.
AN - Sabidamente, o número de traficantes e usuários vem crescendo, gradativamente, nos últimos anos. Isso significa que a sociedade está perdendo a batalha para o tráfico?
Paulo Buchignani - Sem dúvida está perdendo. Mas não é em Botucatu, apenas. Aqui, ainda temos uma policia extremamente atuante, tanto a Civil, como a Militar e a Guarda Municipal. Porém, a maior arma contra o uso de droga, sem dúvida alguma, é a informação; a educação; a prevenção. E nesse contexto, não temos visto nada de maneira geral, articulada e eficiente. Então, a tendência é só piorar e falo isso há muito tempo.
AN - Em percentual, quais são as drogas mais consumidas e, evidentemente, mais traficadas em Botucatu? O que é feito do entorpecente que é apreendido?
Paulo Buchignani - A maconha ainda é a droga mais consumida, mas está sendo seguida de perto pelo crack, infelizmente. As drogas, quando apreendidas, são encaminhadas ao Instituto de Criminalística (IC), onde são periciadas e lacradas. Depois disso, aguarda-se a autorização judicial para a incineração delas e finalmente, são incineradas. Este ano, por exemplo, já foram incineradas mais de 1 tonelada de drogas, na nossa seccional.
AN - Nas prisões efetuadas no tráfico percebe-se que é grande a participação e reincidência de adolescentes. O que está levando o adolescente a se enveredar cada vez mais cedo para a traficância?
Paulo Buchignani - O aumento significativo de menores no tráfico passa por problemas sociais, como má formação escolar e educacional, muitas vezes, face a desestrutura familiar. O jovem não quer saber de estudar mais. Não se interessa em buscar um melhor desenvolvimento e um trabalho de melhor remuneração ou coisa assim. Na busca do ganho fácil são recrutados pelo crime e pelo tráfico e com isso, ganham dinheiro e notoriedade no meio onde vivem e chegam a disputar entre eles, perante o dono da biqueira, para conseguirem um lugar para vender droga. Outro fator que poderíamos citar, é o próprio sentimento de impunidade que impera dentre os adolescentes, face à legislação.
AN - Como evitar, então, que o jovem entre para o submundo do crime?
Paulo Buchignani - No meu entender seria necessária uma repressão ainda mais rigorosa, para aqueles que já fazem parte do contexto criminal de uso e tráfico e uma forte política de prevenção e educação, para evitar que crianças e jovens que ainda não ingressaram nesse mundo, o façam. Por hora, o conselho é que cada pai, cada mãe, cuide muito bem de seus filhos.
AN - No combate efetivo ao tráfico de entorpecentes existe sincronismo entre outros setores da Polícia Civil, assim como Polícia Militar, Guarda Civil Municipal (GCM) e Poder Judiciário?
Paulo Buchignani – Sim! A Polícia Militar e Guarda Municipal nos auxiliam bastante e também fazem um excelente trabalho. Também temos recebido total apoio do Poder Judiciário e Ministério Público de Botucatu, o que tem sido fundamental.
AN - Reza a lei que um cidadão adulto preso na traficância pode ser condenado a uma pena que varia de 5 a 15 anos de prisão. Porém, com as facilidades da lei, ele acaba em liberdade muito antes de a pena ser cumprida. O senhor defende uma lei mais rígida e eficaz para o crime de tráfico de entorpecentes?
Paulo Buchignani - A lei penal é boa. O que muitas vezes faz com que o preso saia da cadeia antes do tempo, é a lei de execução penal. Essa sim é que mereceria alguns ajustes.
AN - As principais rodovias que cortam o município como a SP-300 Marechal Cândido Rondon e SP-280 Presidente Castello Branco, são apontadas como corredores do tráfico internacional de drogas. Como é feito o combate e a fiscalização dessas vias?
Paulo Buchignani - Nas Rodovias, há o trabalho da Polícia Militar Rodoviária. Excepcionalmente, agimos nas rodovias, em casos pontuais.
AN - Dr. Paulo agradeço sua atenção e deixo-lhe à vontade para que faça suas considerações finais sem nenhuma restrição.
Paulo Buchignani - Desejo a você, amigo Quico Cuter e a Valéria ótimo retorno a Botucatu e tenho certeza que farão deste novo noticiário um informativo de sucesso em Botucatu, juntamente com o Fernando Bruder. Estaremos sempre à disposição de vocês.